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TVTEC Blog com Pedro Fávaro Jr.
04
setembro 2017

Evolução digital não muda por si só a realidade

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Daniel Fernandes *

O primeiro estalo foi em 2008. Com carisma, ar jovial, um slogan que virou hit e uma campanha inovadora nas redes sociais coordenada por Scott Goodstein, Barack Obama, então com 47 anos, se tornou o 44.º presidente dos Estados Unidos, fato que mudou não só os rumos da política americana com a troca de um republicano por um democrata, mas também o marketing político e a percepção de como a conexão entre representante e representados pode se intensificar – e qualificar.

Fernandes, heavy user de redes sociais

Depois disso, exemplos de como as redes sociais passaram a ser um canal importante de comunicação (ainda que imperfeita) entre candidato e eleitor, ou eleitos e cidadãos, não faltam. Doria, Trump e muitos outros estão aí para provar…

Evidências atuais também não faltam para reforçar o que a Primavera Árabe deixou claro ao mundo em 2011: as redes sociais potencializaram a uma escala nunca antes vista a capacidade de organização da sociedade. Mobilizações como as que depuseram presidentes e levaram multidões às ruas do Oriente Médio e do norte da África, ou tomaram as ruas do Brasil num movimento que culminou na queda da petista Dilma Rousseff, evidenciam que, sim; quando coordenada, a população pode se mobilizar em prol da causa que bem lhe convir.

No pleito americano de 2016, uma nova demonstração desse potencial. Mais uma vez Goodstein provou que as plataformas digitais podem servir em prol de uma causa, com a campanha de Bernie Sanders, para a qual conseguiu arrecadar online mais de US$ 200 milhões somente com entusiastas da candidatura do democrata. (A ação rendeu, inclusive, uma excelente análise da tradicional revista New Yorker).

Outra prova da importância das redes sociais, Donald Trump, com suas centenas de mensagens de até 140 caracteres no Twitter, foi o segundo presidente eleito nos Estados Unidos com uma plataforma de comunicação digital em primeiro plano, o que também rendeu um interessante artigo de Goodstein publicado no jornal New York Times, no qual ele afirma que, mais do que nunca, os candidatos precisam ser autênticos – principalmente online.

Mudança de comportamento

Apesar dos exemplos efetivos, quase uma década depois de as redes sociais provarem na prática seu poder na formação de um elo importante para a mobilização política e social, assim como parte dos tradicionais meios de comunicação, a maioria da classe política segue ignorando a grande virtude e principal diferencial trazido por essas plataformas: a interatividade.

“Os políticos que inundam o Facebook e o Twitter com informações erram. É preciso conversar com usuários, responder suas dúvidas e saber escutá-los. As pessoas desejam fazer parte de uma via de duas mãos. Eu não entro no Facebook de um político para ler textos de divulgação para a imprensa”, afirmou, ainda em 2010, Goodstein em uma entrevista ao G1.

Se a organização pelas plataformas digitais é capaz de eleger presidentes, derrubá-los, arrecadar milhões em prol de uma candidatura, entre outras tantas inimagináveis ações, por que mesmo com perfis em diversas plataformas políticos e administradores públicos têm dificuldade em dialogar e interagir com o povo?

Simples: a revolução criada pelas plataformas digitais ainda é incapaz de quebrar o mais importante, que é a tradição de muitos de governar, se comunicar, informar, entre outros, sempre de cima para baixo, em uma mão única, na qual um produz/decide e outro recebe/acata.

É através das redes sociais que os políticos podem falar com seus eleitores, saber o que eles pensam, suas dúvidas, vontades e criar uma via de duas mãos. Para isso, porém, precisam antes de tudo entender que não são meros emissores, e que precisam ser também receptores dos anseios populares, numa relação que coloca os dois lados no mesmo nível.

Canais de conexão

Os meios de aproximação entre população e governantes já foram desenvolvidos. O que o poder público necessita é criar canais simples de conexão com a população, assim como fazem hoje muitas marcas, através das redes sociais, monitorar as demandas e, principalmente, avaliá-las e acatá-las.

Não basta usar o Facebook para mostrar uma obra, falar sobre um projeto, emitir alguma opinião, pedir votos, etc.. Cada vez mais o poder público deve estar de fato conectado à população, ouvi-la, dialogar com ela, e fazer das redes sociais uma grande, inclusiva e moderna Ágora.

A revolução digital é um ciclo em (rápida) evolução e muito ainda precisa ser aperfeiçoado para que as possibilidades por ela criadas se tornem um meio efetivo de aproximação e diálogo entre a população e o poder público. Mas, como demonstram os casos citados e afirmava o exemplo que abre esse texto, creio que, sim, nós podemos mudar e melhorar o mundo com o auxílio dessas novas tecnologias; basta dar voz e ouvidos à sociedade.

* Além de entusiasta e heavy user das redes sociais, o autor é jornalista há seis anos e nunca teve uma matéria impressa, apenas estampada nas incrivelmente mutáveis capas e páginas dos portais por onde passou (Terra, Veja e Band).



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Link original: https://tvtecjundiai.com.br/tvtecblog/2017/09/04/evolucao-digital-nao-muda-por-si-so-a-realidade/

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