TVTEC Blog | https://tvtecjundiai.com.br/tvtecblog

TVTEC Blog com Pedro Fávaro Jr.
19
outubro 2017

“Senta aí e treina! Logo você aprende!”

Leia mais Análise

Quando a gente passa dos 60, sempre tem muita história para contar. O problema maior é conservar o HD com algum espaço de memória para o sistema operacional ser capaz de rodar… Não entendeu? Depois dos 60, a gente está pleno de histórias boas e ruins para contar. Da gente e dos outros, especialmente se sua vida foi trabalhar, 40 anos, contando histórias. O problema é que não lembra de todas ou esquece de detalhes importantes daquelas que lembra.

É só uma abertura para narrar as aventuras deste que rabisca essas muito bem traçadas e organizadas linhas, primeiro pelo mundo do processamento de dados, depois da informática e, agora, das redes sociais e dos dispositivos parceiros que quase formam uma nova família, quando nos tornamos muito dependentes deles – celular, tablet, notebook e o PC, em casa.

Acredite – quando estava lá pelos meus 15 anos fui com meu irmão fazer um curso de Cobol (COmmon Business Oriented Language – Linguagem Comum Orientada para os Negócios) uma linguagem de programação de computadores orientada para o processamento de banco de dados comerciais. Do tempo dos cartões perfurados e do computador que ocupava, nos CPDs das grandes corporações, um andar inteiro ou mais. Cobol… Era mais “Comgol” … Eu e meu irmão trocávamos as aulas pelas mesas de pebolim (ou totó) perto da escola.

Claro, ficamos craques de futebol de pebolim. Cobol era coisa para gênios. Só retomei contato com o computador muitos anos depois, lá por 1989, 90. Nas outras redações, “batucava pretinhas” – era a expressão fantástica da época para quem datilografava seus textos rapidamente nas Olivetti bola (Olivetti Lexikon 80). Até que vieram os primeiros senhores computadores. Os 286 de letrinhas verdes na tela.

“Sente aí na sua nova máquina. O teclado é muito parecido com o da máquina. E tem uns macetes para gravar o texto na memória e arquivar”, me disse um dos chefes na redação do Estadão. Eu era só um copy, um redator. Tinha muitos chefes. Diretor de Redação, Secretário, Editor de área, Subeditor, os copies mais antigos… Sendo assim, pergunto: “Vai ter treinamento?”

– Sim. Você senta, escreve e vai treinando…

Sempre, em momentos difíceis assim, lembrava e lembro até hoje das aulas de Cobol…Mas em pouco tempo já estava quase conseguindo fazer um título, gravar e arquivar… Era o início do processo de substituição, sim, substituição das máquinas de escrever… Imagine uma redação com 400 jornalistas que faziam as “bolinhas” vociferar e rugir diariamente sem aquilo, sem aquele auê… Já se cogitava usar protetores de ouvido contra a batucada infernal. Tinha gente ficando surda… O cigarro, nas redações, incomodavam a poucos…

As Lexikon se foram. Vieram os ‘doisoitomeia’, ‘trêsoitomeia’ e outros meia que foram tomando o lugar delas e das laudas tão queridas e disputadas, especialmente às sextas, nos pescoções, para embrulhar as pizzas que embalavam a entrada nas madrugadas. Na Agência Estado, em Campinas, a gente fazia a reportagem e escrevia na lauda. O mestre Eurico Caxambu passava para o IBM e transmitia para a sede da Agência, Estadão e JT, diretamente da Senador Saraiva em Campinas: um evento!

De volta a São Paulo, na Agência Estado, o 286 ou 386 – enfim, aquelas letrinhas verdinhas e o HJ, deram vez ao Word.  Quem? “Isso, Word. Muito mais fácil!”. Mas vai ter treinamento? “Vai – você tenta escreve, acerta, erra, arquiva, perde e vai aprendendo. É treino: tentativa e erro. O treinamento mais ancestral que existe…” São Cobol, valei-me! E pronto: “a necessidade faz o ladrão!”, embora Machado de Assis dissesse que faz o furto, porque o ladrão já nasce feito. Na verdade, é para confirmar que na tentativa e erro, o Word foi dominado, como havia sido o 286.

O projeto e desenhos dos jornais que exigia arte-finalistas com talento, com noções de fotografia e proporção, deram lugares a programas. As páginas antes riscadas passaram a ter templates nas telas. E caíram os revisores (trocados pelos corretores eletrônicos – hahahahaha!), e os redatores, e os subeditores, criando-se um inimaginável triângulo – repórter/texto, página, editor, esmagado pelos horários comerciais de impressão e de garantia de publicidade aos anunciantes. Rogai por nós, São Cobol!

Nem vou falar que paralelamente estava acontecendo o surgimento dos celulares, que pareciam pequenos tijolos e eram carregados em bolsas que se acoplavam aos cintos. É outra história. Depois vieram os PCs e veio a bolha.

Houve um tempo que havia tanta gente na redação que a gente disputava o posto de trabalho a tapas. E nesse tempo, pelo ano 2000, surgiu uma categoria de jornalistas excluídos, na redação da Agência Estado, que o saudoso amigo, jornalista Ademir Fernandes, classificou de SEM TELAS.

Nessa mesma época da bolha da internet nas redações, os PCs começaram a entrar nas casas e a tomar seus lugares. Em 1996, chegou a internet discada entre nós. E o fax, como a olivetti bolinha, as cabines telefônicas de recepção de texto viraram pó. Como sumiram as listas telefônicas.

Tomou posse o que chamamos de email (eletronic mail) e o que Ariano Suassuna, se fosse vivo, chamaria de “correio eletrônico” sem pudor algum e com a maior correção. Chegaram as News letters – perdão, Suassuna! Mas e-mails, letters, Orkut, ICQ, CD-ROMs, pendrives, chips, sites, redes sociais, algoritmos, inteligência artificial, educação à distância e tal são assuntos para outros capítulos.

Até lá.  Que São Cobol nos proteja!



Os comentários para este artigo já foram encerrados.

Quem já participou (16)

  • pfjunior disse:

    Oi, Fernanda. Amigos – como o Ademir – são a verdadeira fortuna da nossa vida. Beijos pra você e toda a família.

  • Fernanda Banov disse:

    Que legal…nem trabalhei na área, mas me senti parte da “turma”…E que legal vc sempre lembrar e dar nomes aos amigos (leia-se Ademir Fernandes )

  • pfjunior disse:

    Então {tá, } né Lima? “);

  • Wilson Lima disse:

    #include
    #include

    int main(){

    printf(“\n O que a tar da tecnologia não faz com a gente, hein Pedroca?”);

    scanf(“%c”, & Bye Cobol);

    return 0;
    }

  • pfjunior disse:

    Nem é tão difícil, certo Cley? Ainda temos um restinho de memória RAM – ou sapo, não sei – que permitem rodar uns programinhas como escrever e ler… Abração.

  • pfjunior disse:

    Logo, logo, logo! Só chamar.

  • pfjunior disse:

    Cristina Belluco, que saudade! Sei que você não é do tempo do Cobol, mas não entendi o que quis dizer com “… naquela época…”. Brincadeira. Fato é que a gente foi pioneiro, na tentativa, erro, treinou e aprendeu. Nunca enroscamos muito, né não amiga? Abração. Quando aparecer por Jundiaí venha ver a TVTEC.

  • Cristina Belluco disse:

    Pedro, não sou da época do Cobol… aliás, nem imaginava que exisita curso de programação já naquela época… Mas lembro-me bem da dificuldade que tive quando fui editar na Folha de SP – Sudeste, que já tinha sistema computadores. A gente tinha que colocar uns códigos enormes para definir fontes e tamanhos dos títulos, bem como dos textos… afff…

  • sergio disse:

    Vamos logo Pedrinho…antes que o mundo acabe…rsrsrs

  • Cley scholz disse:

    Pedrão, gostei de relembrar detalhes que eu já estava esquecendo. Abraços

  • pfjunior disse:

    Mais que topado. Vamos recordar o senhor Abdec, que tampava os furinhos do fotolito… Beijão, Sérgio meu querido.

  • pfjunior disse:

    Legal. Dá uma olhada nos outros posts, Ma. Veja se eles dizem alguma coisa também. Estou trabalhando duro para dar uma lavada, escovada e penteada nessa realidade. Beijos e obrigado pela atenção.

  • Marija Rosa Savelli Braga disse:

    Pedro, gostei de sua coluna. Eu comecei a datilografar na Remington “caixa alta”, depois foi a Olivetti mecânica, a IBM elétrica com esfera, IBM elétrica + telex e, quando me tornei tradutora, tive que cursar o People para aprender a lidar com o PC (Personal Computer).

  • sergio disse:

    Caro Pedrinho; passei por tudo isto também, nos anos 70…mas na área do “pastup”, fotografia e fotolito. Retocar o fotolito (que era no negativo) era um saco. Trabalhei como repórter fotográfico na era do Plinio, Bardari, Carlos Ramos e Sidnei Mazzoni…tempos memoráveis. Tem muita história que terei prazer em te contar…mas, acompanhado de um chopinho. Topas? Grande ósculo fraterno. Saudade.

  • pfjunior disse:

    Obrigado, Bete Giassetti. Treinamos, chegamos aqui e acredito que com o que aprendemos podemos facilitar a vida dos que estão vindo depois de nós. Escrevi agora que o grande mistério ainda, na minha mente, é alinhar as novas tecnologias aos valores como justiça e verdade. Porque não adianta nada a gente se conectar à lua, sem respeito ao diferente que está ao nosso lado. Beijo e por favor apareça sempre por essas bandas. Beijo.

  • Elisabete Giassetti disse:

    Viajei no Tempo… seu texto é sensacional… me remeteu no passado… Jornal da cidade…tendo como chefe de redação o saudoso Waldemar Gonçalves.. depois o Plínio.. o Nelsinho… Mazzoni.. .Ancelmo Brombal.. Alcyr… Martinelli… Furuta… Nono… bom tempo aquele… era desse jeitinho mesmo… Parabéns.!…..Senta aí e treina…rsrss

Link original: https://tvtecjundiai.com.br/tvtecblog/2017/10/19/senta-ai-e-treina-logo-voce-aprende/

Apoio