AUTO DE NATAL
Leia mais CrônicaPedro Fávaro Jr.
Entramos na Quarta Revolução Industrial. Entramos na Era da Tencologia. Se perdermos algumas de nossas telas, hoje, sentimo-nos limitados ou incapazes. Essa crença limitante é a prova, pelo menos para mim, de que toda essa evolução material, que alimenta o consumismo e o relativismo, não foi acompanhada por uma evolução do pensamento e do espírito humano. Prova cabal disso, a meu ver, é o fato de que a absoluta maioria nasce muito distante dessas comodidades e facilidades. Sendo assim, permito-me refletir de novo sobre o Natal, trazer de um muito simples, talvez o modo mais popular de contar uma história que é o cordel, a história que – eu creio – não nos permite esquecer quem realmente somos, em qualquer tempo, e o que temos feito em relação ao outro. Natal é tempo propício para encurtar essa distância entre o que fazemos e o que realmente somos.
Feliz Natal!
AUTO DO MENINO JESUS
Cantada assim desse jeito,
Nos versos deste cordel,
Essa história que veio do céu,
Parece bem mais humana.
Fica perto de nosso tempo
De tanto horror, tão cruel,
Que faz doer nosso peito.
***
Mostra a sina da mocinha,
Filha de Ana e Joaquim,
Prometida em casamento,
Que no meio do caminho
Viu-se em grande tormento
Tendo um filho na barriga,
Apesar da pouca idade!
***
Filho anunciado por anjo
Que garantia o milagre
Da sombra fecunda do espírito
De mesmo, sem ser tocada,
Ter a criança anunciada
Conservando a virgindade.
***
Jovens, mulheres e velhos
zombavam, faziam pouco.
O povo de toda a cidade
falava mal da coitada.
A tradição vai contar:
Ninguém defendia a mocinha
Nem padre, nem autoridade.
***
Muito pior do que isso!
A lei daquele lugar
Obrigava toda mulher
Suspeita de traição
A beber uma poção
Amarga, de ervas e água,
Para fazê-la abortar.
***
Bebida a água danada
E se vingasse a criança
(o que ninguém desejava)
Deixava-se a moça partir,
Livre e sem compromisso,
Para onde ela quisesse!
Mas ela partia marcada…
***
Cheia de fé e esperança,
Sem se importar da zoada,
Sem medo do que viesse,
O peito livre de mágoa ,
Bebeu a água amarga
Da inveja e da cilada.
E não perdeu a criança.
***
O noivo infeliz e acuado,
Motivo de caçoada,
De ver aquele tumulto
Pensava no seu coração
No modo melhor que teria
De se livrar desse drama
De como largar a amada.
***
Tentado pelo demônio
Pensando no que fazer
Pediu socorro a Deus Pai
Que o inspirou por um anjo
Aparecido em um sonho
A manter sua palavra
E a ficar no matrimônio.
***
José ficou com Maria
Firmes os dois no amor
Até que chegou o dia
De vir a criança à luz.
E só encontraram amparo
Pertinho dos animais
Recolhidos à estrebaria
***
Assim, na pobreza e louvor,
Nasceu entre nós o menino
Anunciado pela estrela,
Cercado de cantos e luz,
Visitado por pastores,
Reis, anjos e arcanjos,
Jesus, o nosso Senhor!
***
É isto que celebramos
E lembramos neste dia.
Que pelo seu grande amor
Aquele que era Deus
Fez-se criança conosco
Devolveu-nos a esperança
Restaurou nossa alegria!
***
Assim, começa a história
Que ainda não teve final
De um tempo glorioso e novo
De um povo chamado cristão
Guiado pelo Menino
Saudado por reis e pastores,
Surgiu para nós o Natal!
(Pedro Fávaro Jr.)
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