FRIO OU FAKE FRIO? O QUE VAI SER?
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Os descaminhos da audiência têm lógicas à s vezes indecifráveis, impossÃveis de ser avaliadas e que, mesmo usando programas avançados de análise, não se consegue entender. O Brasil pode ter mesmo o inverno mais rigoroso dos últimos 100 anos? Ou o inverno pode não ser tão rigoroso assim? Por qual motivo essa questão interessa a milhares e milhares de pessoas distantes da agricultura e da climatologia, apenas logadas numa rede social? Pode ser fakenews? Pode não ser? “O que será que será?”
Na sexta (20), o TVTEC News subiu um pequeno post que já havia sido publicado pelo Jornal Andradas Hoje Regional, complementado com informações do NotÃcias AgrÃcolas e da Rádio Rural, afirmando que Brasil terá o inverno mais rigoroso dos últimos 100 anos.
Nota bem curta, de pouco mais de 800 caracteres – qualquer coisa na faixa de 12 linhas – muito simples com cenário supostamente descrito por um engenheiro agrônomo e um climatologista, falando dos “possÃveis” rigores e “possÃveis” recordes do inverno que se aproxima. Confira a notÃcia original na Ãntegra.
Replicada no Facebook da TVTEC, a nota acabou recordista absoluta na área de textos, apontada com ira por uns poucos anônimos como fakenews: 940 reações, 276 comentários, 3.558 compartilhamentos e mais de 162 mil pessoas alcançadas. Nenhum outro texto publicado pelo TVTEC News ou pelo Facebook da TVTEC alcançou tais marcas.
Teve até youtuber famoso replicando a notÃcia no seu twitter. Whindersson Nunes foi um deles. Além disso, foram nada menos que 327 mil acessos no site, segundo o Google Analytics.
As marcas se aproximaram das obtidas pela live realizada em dezembro, com a Caravana Iluminada da Coca-Cola. Mas texto é texto e live é live, e vice-versa, parafraseando a máxima do esporte atribuÃda por alguns à sabedoria do centroavante do Grêmio, Mário Jardel, na década de 1990.
Um primeiro contraditório (pero no mucho) apareceu no Sul, dado pela MetSul Meteorologia. Nos termos seguintes: “De acordo com a MetSul Meteorologia, a probabilidade estatÃstica de que o inverno no Brasil seja o mais rigoroso dos últimos 100 anos é pequena. O motivo, segundo especialistas, se daria por conta do La Niña, mas o fenômeno, que teve inÃcio em 2017, já está em seus últimos dias em 2018.
Na verdade, o inverno deste ano pode ser marcado pelo começo de um El Niño, fenômeno climático em que ocorre o aquecimento fora do normal das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano PacÃfico Equatorial. Desta forma, os dados analisados mostram hoje ser provável um inverno com temperatura acima da média histórica.”Â
A notÃcia foi explorada também, nesta segunda-feira (23), pelo site do UOL. Como subiu o post desinteressadamente, a TVTEC publicou, também, o contraditório que entre outras coisas afirma “simulações mostram que as temperaturas devem cair em todas as regiões do paÃs em relação a 2017. Frio extremo, se houver, deverá ser pontual…”
No Correio Brasiliense, da segunda-feira (23), informa-se: “O coordenador geral de meteorologia do Inmet, Expedito Rebello, afirma que trata-se de uma notÃcia falsa, com uma chance remota. ‘Não dá para dizer que teremos o inverno mais frio de 100 anos. Só dá para prever com maior exatidão entre 5 a 7 dias, a partir daÃ, o resto é chute. Pode até ser que aconteça, mas é extremamente difÃcil‘, salienta.”.
Sei. Pode ser que sim, pode ser que não. É só uma notÃcia falsa com chance remota. Hã? Mais ou menos como notÃcia verdadeira com chance remota? Dá para comparar mais ou menos com um gol do Corinthians, aos 47 do segundo tempo. Aquele que todo mundo sempre acha impossÃvel, mas aparece, para o desespero da torcida contrária. E digo isso com o coração apertado, já que sou palmeirense.
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Como subiu o post desinteressadamente, a TVTEC publicou também as outras duas notÃcias no seu site e nas redes sociais que usa. E continua a buscar os reais motivos para o fato de uma breve nota sobre clima – que alguns insistem em chamar de fakenews, sem que haja qualquer desmentido peremptório, repito – ter alcançado a repercussão gigante que alcançou.
Pessoalmente reputo o fato à instantaneidade, interatividade e praxiologia das redes sociais que dão voz e vez, da mesma dimensão, do mesmo padrão, com os mesmos decibéis e contornos, aos emissores e aos receptores de toda e qualquer mensagem, peregrinos eletrônicos online nas mesmas vias tecnológicas e cibernéticas.
No mais, o melhor é ficar atento aos cliques dados para decifrá-los e entendê-los sempre ou ser, de verdade, devorado por eles.
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