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TVTEC Blog com Pedro Fávaro Jr.
29
maio 2018

Sociedade, ‘latrias’ e crises em Jundiaí e no mundo

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Pedro Fávaro Jr.

Numa sociedade onde o indivíduo é induzido a amar excessivamente a si mesmo – para muito além da autoestima –, e a levar vantagem em tudo para sobreviver ou garantir seu “bem-estar”, estimulado pelos funcionamento de modelos deformados,  o resultado será sempre a confusão e a desesperança que, misturadas, são sempre motores de crises. A egolatria, o egotismo, o amor centrado em si mesmo mata a coletividade. Leva as pessoas à crença limitante e enganadora do “eu já sei”.

Numa sociedade de ególatras, nesta saga do “eu já sei”, qualquer mudança surpreende, porque quem sabe tudo não presta atenção em nada, a não ser no próprio umbigo.  A crise ética na política nacional, cuja metástase parece ser a crise econômica (ou é o contrário?), acentuada e posta em evidência pela greve dos caminhoneiros, deixa evidente outras “latrias” sociais limitantes, como por exemplo a “rodoviolatria”, a “veículolatria” e a “gasolinolatria” disseminadas pela indústria fóssil, especialmente a petrolífera e a indústria automobilística norte-americanas entre nós, a partir do governo Juscelino Kubitschek (1956-1961).

Essas venerações, essas “latrias”, estimuladas pela República das Empreiteiras em que o País se transformou, a partir do governo militar (nele surgiram as grandes construtoras e pavimentadoras do futuro brasileiro, hoje envolvidas até o pescoço com as delações premiadas) são essencialmente responsáveis, ao longo do tempo, pelo abandono das ferrovias e dos trens muito mais comunitários e sociais do que os carros.

A “primeirolatria” é outra das vertentes dessa cultura imediatista que nessa situação de crise põe em desespero multidões de seres alheios ao uso do transporte coletivo. Multidão que disputou um galão de cinco litros de qualquer coisa (álcool, gasolina comum, aditivada etc) em filas quilométricas nos postos, furadas nas esquinas pelos que se acham espertos, enganadas pelos que dão carteiradas para encher o tanque do próprio carro e da parentela toda e, ainda, cooptada pelos “vendedores” de lugares ou “guardadores de fila” de aluguel.  Penso comigo que a “primeirolatria” é a mãe do amor às filas, a “filalatria”. Culpa de quem?, me perguntam. De minha parte, desejo que cada um construa para si mesmo uma resposta sincera.

Às vezes, pode-se até pensar que seja possível se livrar de toda essa confusão e de todo tipo de crise mudando de cidade ou de País, para não se perder a esperança de vez. Creio que, para algumas pessoas, isso seja mesmo possível. Porém, só quando não se leva na bagagem o padrão de pensar e de se comportar alimentado por falsas crenças e valores duvidosos e descartáveis. Destacadamente a crença do “eu já sei” ou “já sabia”…



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