Torcer ou não torcer, isso é uma questão?

Pedro Fávaro Jr.

Há pessoas que se recusam a torcer pela nossa seleção em razão da corrupção na Fifa e CBF e da ostentação do circo mundial do futebol, enquanto milhares de pessoas morrem de fome no mundo. Outros, associam tudo à política eleitoral e destilam seu bile fazendo apologia da direita, de centro e de esquerda calçando seus argumentos nas mazelas que cercam construções de estádios, participação no evento e coisa e tal… E com a conversa cansada de “menos pão e circo”, mais isso, mais aquilo e tal.

Futebol, meus queridos e queridas, é só e apenas esporte. Futebol de verdade é desafio. É superação. É enfrentamento e arte, no gramado, no rapadão ou na areia. Então, para mim, torcer pelo nosso futebol não é um dilema. Vou torcer como quem desde pequeno foi ensinado a dar tanto valor para a terra onde nasceu como para a verdade, a honestidade, a solidariedade, o bem comum e outros valores que, aos poucos, vão se liquefazendo porque muitos desistem deles, cansados de ver a vitória dos malvados. Sem entender que a gente deve torcer e lutar sempre contra os tiranos e déspotas.

Não vou me deixar envenenar pelo desânimo ou pela radicalidade, pelo fundamentalismo. Eu vou torcer!

Deve-se sempre torcer para o fim dos subornos e propinas bilionárias que o FBI descobriu na Fifa e suas afiliadas – entre elas a CBF – mas das quais os cidadãos comuns do mundo desconfiavam fazia tempo. Torcer para que os chefes de governo atuem para levar aos seus países à Copa do Mundo com o mesmo empenho com que defendam a cidadania, distribuam a justiça e as riquezas entre seus compatriotas.

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Nada disso, todavia, é impedimento para eu torcer pelo futebol. Pelo melhor futebol.

Futebol é esporte e esporte coletivo. Como todo esporte coletivo, precisa de time, de conjunto, de preparo, cooperação, de renúncia às vaidades, de simplicidade e de foco. Precisa de sintonia e empenho de todos no mesmo sentido, na mesma frequência, para atingir a meta.

Uma equipe com esses atributos não precisa que roubem para vencer. Não precisa de violência para vencer. Não precisa de maracutaia para vencer. Futebol é esporte e como tal serve para ensinar a humildade na derrota e a generosidade na vitória.

Como renunciar ao futebol, se você viu Pelé jogar dos 18 aos 37 anos? Ou não gostar dele, se você foi vizinho do Dalmo Gaspar, conheceu pessoalmente Vavá, viu o tirocínio de Coutinho no campo, amava o improviso de Garrinha com suas pernas tortas, a determinação de Zagalo que ‘engolimos’ por tanto tempo, a arte do democrático Sócrates e do monárquico rei Falcão, a precisão de Gerson que no futebol levava vantagem sobre qualquer um e a categoria diplomática de um zagueiro como Djalma Santos? De que jeito não torcer?

Não há como torcer contra o futebol, especialmente se você foi premiado por assistir em cores e ao vivo – um avanço fantástico na televisão! –, a Copa de 1970 e viu o futebol tricampeão que jamais será igualado. Não há como esquecer, no futebol, a genialidade de Cruyff e a vitalidade devastadora do carrossel holandês de 1974. Ou o fantástico hermano manos de dios Maradona, que perde no desempenho para Neymar e Ronaldinho Gaúcho – na minha opinião – mas que no seu tempo, do seu modo, deixou sua marca. Ou o azar de Paolo Rossi em 1994!

Eu vou torcer pelo Brasil, sim!  Pelo futebol do Brasil. Para que ele vença e a vitória sinalize a chegada de novos tempos de derrubada e desmonte das estruturas caducas e viciadas, que impedem conquistarmos tantos outros títulos necessários.