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TVTEC Blog com Pedro Fávaro Jr.
03
julho 2018

Foco na bola Brasil, que é jogo de gente grande

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Agora é jogo só de homem grande, gente grande mesmo, como dizia meu tio Augusto Fávaro. “Homenzinho não aguenta. É só encostar que cai”, recordo a fala do tio, ouvindo rádio, na Copa de 1962, há redondos 56 anos – dos meus 64. Jogavam Brasil e os gigantes ‘comunistas’ da Checoslováquia, que naquele tempo existia e a gente escrevia com ‘T’ de tatu. E que desde 1993 virou duas repúblicas – a República Checa e a República Eslovaca. Todo mundo ficava em volta do rádio e o tio de vez em quando sapecava suas frases de efeito, batendo até no locutor paulista de Lins, estreante na Copa do Mundo, Fiore Gigliotti. “Caiu porque é homenzinho. Tem que levantar logo e jogar. Só jogar. Pronto”, aconselhava ralhando com a transmissão.

Vamos lá. Com “jogo de homem grande”, Tio Gusto queria dizer que se o cara batesse no jogador brasileiro, ele não deveria cair. O objetivo do agressor é derrubar, interromper sua carreira, impedir a sua evolução. Se ele bate, você cai, rola, chora, resmunga, reclama, então ele atingiu o objetivo. Se ele xingar, você não deve revidar. Se revidar, entra na pilha dele e ele realiza a façanha que empreendeu. O negócio é sempre ficar firme, se o jogo é de taça. “Pelo menos na frente do juiz ou do bandeirinha. Pega o cara no canto e chama nos tentos escondido”, filosofava meu padrinho que tinha jogado o amador muito tempo, na zaga do Vila Cristo.

Foi assim que nós brasileiros fizemos, mesmo enfrentando os homenzarrões europeus – porque a diferença física era brutal naqueles tempos antológicos do improviso no futebol. Tempos pré-futebol de mercado, desse esporte ser globalizado e ficar refém das “duas linhas de quatro”, no jogo tipo sanfona. Tempo em que os jogadores aprendiam a jogar e a criar jogadas nos buracos, brejos e pedriscos dos rapadões, com bolas de couro costurado. E não nas telinhas da lógica binária dos computadores. Hoje, como a arte imita a vida, o futebol pós-moderno parece imitar os padrões do Play Station. Nada se cria. Nem se copia. Tudo se prevê, com alguns raros lampejos humanísticos.

Fomos grandes e fortes em 1958. Levamos o Bi em 1962 e o Tri em 1970. O Tetra de 1994 é um capítulo que julgo separado, diferenciado, mas teve disso também – a gente cresceu, apesar do Parreira e do Dunga. Nosso menor homem, Romário, que não caia nem chorava durante o jogo, ficou tão grande que marcou de cabeça, na área dos gigantes da Suécia. Aí, se quisesse, até podia chorar. Mas preferiu fazer chorar os adversários, isso sim! Fomos para a final e levamos. Em 2002, o time era enorme, com astros como Rivaldo e companhia bela. Derrubamos a Alemanha com dois gols. Aliás, o Fenômeno derrubou a Alemanha.

Então, agora o negócio é ir para cima da Bélgica. Nada de joguinho “marromeno”, sanfonado nas linhas de quatro, enceradeira. Nada de chororô, porque vai ser jogo só para homens grandes, independentemente da idade. Ou Mbappe de 19 anos não foi um titã no jogo contra a Argentina? Os belgas têm Lukaku, um artilheiro colossal. Têm o maior e mais eficiente ataque da Copa de 2018 (16 gols em cinco jogos). Portanto, não dá para patinar e encenar numa quarta de final desse tamanho. Já jogamos uma vez contra os grandalhões belgas, faz 16 anos, e aplicamos um 2 a 0. Portanto, foco na bola, foco no futebol, foco na rede.  O resto é marketing, promoção pessoal ou histrionia. E disso, ah!, disso o mundo está farto!



Os comentários para este artigo já foram encerrados.

Quem já participou (9)

  • pfjunior disse:

    É isso. É o futebol de mercado, binário, chato, mas rentável. Temos gestores nas duas linhas de 4 e em vez de centroavante, um administrador de bolas que parece um partner de valsas – dois pra lá, dois pra cá – e nada de ir pra cima…

  • Hilário disse:

    Tenho reparado que os jogadores, não só de futebol, mas os esportistas melhor dizendo, estão cada vez mais expostos ao lado de grandes marcas. É claro, isso pode dar mais dinheiro que contrato com clubes. A tendência é o atleta se tornar cada vez mais ator e menos jogador. Lastimável.

  • pfjunior disse:

    E que venha o Hexa, certo Drezza? Abração!

  • pfjunior disse:

    Alex: que saudade! Grande abraço, meu irmão. Pra você e para os seus.

  • Alex de almeida leite disse:

    O meu grande e velho amigo, sempre escrevendo com carinho e envolvimento. Abs

  • Edison disse:

    É isso mesmo!! Pra cima deles Brasil!!!

  • Edison disse:

    É isso mesmo!! Pra cima deles Brasil!!!

  • pfjunior disse:

    Oi, Dê. Obrigado pelo seu comentário, gentil e generoso. Abração. E que venha o Hexa.

  • Denise de Oliveira disse:

    Delícia de texto! Você como sempre consegue envolver seu leitor. E que venha a Bélgica e que tio Gusto “assopre” no ouvido dos nossos jogadores sexta-feira: “Agora é jogo só de homem grande, gente grande mesmo”.

Link original: https://tvtecjundiai.com.br/tvtecblog/2018/07/03/foco-na-bola-brasil-que-e-jogo-de-gente-grande/

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