Fogo destrói parte da Jundiaà dos ferroviários
Leia mais Crônica ▪ Complexo Ferroviário ▪ EstaçãozinhaO fogo praticamente acabou com o pouco que restava da estrutura da Estação Central de Jundiahy da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, apelidada de Estaçãozinha, próxima ao Viaduto São João Batista, na Avenida Torres Neves. O prédio, construÃdo no municÃpio em 1898, é parte da história e arquitetura da cidade, ligada à memória da Paulista e da Estrada de Ferro São Paulo Railway, depois Santos-Jundiaà e, portanto, integra a memória histórica e arquitetônica do PaÃs. E faz parte da minha história e da de muitos sessentões que viram e viveram o ciclo de ouro da Paulista.
Trata-se de um tempo vivo na memória daqueles que, como eu, são nascidos, criados e enraizados nesta terra de Petronilha. Faz lembrar o movimento tremendo que eu assistia, nas madrugadas e tardes de todos os dias, regido pelo apito pontual da Companhia Paulista, pela Avenida Henrique Andrés, ainda sem calçamento na sua parte central. Um exército imenso de ferroviários que descia a rua rumo às oficinas, onde hoje está o Complexo Fepasa.
Olhar para as fotos do rescaldo me fez viajar e voltar à alegria do tempo dos trens de passageiros, limpos, pontuais, entre São Paulo e o interiorzão paulista. Os trens que eu pegava para gazetear ou ‘bater o pé’ das aulas da primeira série do ginásio (que repeti, claro!), com o José Carlos Fonseca, um irmão postiço, meu primeiro amigo de infância e juventude, para disputar alguns ralis. Éramos menores de idade mas sempre dávamos um jeito, porque os guarda-trens moravam nas Casas da Paulista, na Vila Municipal.
A gente se conhecia e tinha amizade com os filhos deles. Então saÃamos cedo da Estação Inglesa da Vila Arens e a primeira estação a se ver era ela, a Estaçãozinha…  Fez lembrar da Sorocabana que passava do outro lado e que, vez ou outra, a gente arriscava pegar também…Ou que Ãamos ver sempre descarregar os bois no FrigorÃfico Guapeva…
Pesquisei e vi que em janeiro deste ano foi feito um alerta, pelo jornalista, ambientalista e amigo José Arnaldo de Oliveira, sobre o fato do lugar ter sido ocupado irregularmente. Na publicação, feita no Jundiaqui, site local de notÃcias e entretenimento, ele lembrou que a recuperação do prédio sempre foi bandeira da Associação de Preservação da Memória da Companhia Paulista. O imóvel pertence ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
O fogo, além de tudo, me pareceu irônico. Quis acontecer no feriado de 9 de Julho, que celebra a Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1932, esmagada pela ditadura de Getúlio Vargas, em 2 de outubro do mesmo ano. A Estaçãozinha destruÃda assim como está, agora, é mais ou menos como a revolução de 1932: apesar de destruÃda, esmagada, é fonte de lembranças e apelos para que a gente sempre cultive e lute para preservar legados que dão sentido ao futuro, garantem aos tempos novos o afastamento das sombras da ignorância.
Rapaz: ainda não falei com o Zé, que é um amante da ferrovia. O pai dele, seu Quinho (Manoel Fonseca) e a mãe (dona Inês), foram meus pais postiços. Vou dar um toque. Obrigado, Hilário.
Apesar de ser apenas um garoto então ter vivido em tal época, viajei no tempo com esse texto. De um acontecimento triste você conseguiu amenizar ao resgatar a memória a amizade. Bons amigos não saem da lembrança nunca. José Carlos sabe que você o dedurou publicamente? hahahaha
Abraço!