Um cobrador diferente em Jundiaí. Ou trocador?
Leia mais Crônica ▪ Antônio Alemão ▪ Cobrador ▪ Pedro Fávaro Jr. ▪ TrocadorCobrador ou trocador? Uma figura tradicional que está dando lugar, no transporte coletivo, para as catracas eletrônicas, embora não possa ser substituído pelo motorista, por força das leis trabalhistas. E eu com isso? Nada, claro, se eu não usasse o transporte coletivo, mais especificamente as linhas que passam pela Rodovia Engenheiro Constâncio Cintra e me deixam, confortavelmente, quase na porta de casa.
Quem escreve ou faz Jornalismo tem o vício de observar e notar o diferente. O diferente muda tudo. O diferente é a notícia. O diferente, nas escolas de Comunicação, era o homem morder o cachorro, porque cães mordem por natureza. Mas num tempo em que homens e mulheres que mordem, bufam, xingam em todos os lugares – no trânsito, nos bancos, nas lojas, nos passeios públicos, o diferente é o ser humano feliz, tranquilo, alegre, equilibrado.
Você é capaz de imaginar isso num cobrador de ônibus? O Alemão é assim. Eu imagino que ele esteja na faixa entre 45 e 55 anos. E trabalha nos ônibus desde 1996, faz 22 anos. Agora, com as catracas eletrônicas, a inteligência artificial e o algoritmo, o que Alemão faz, ninguém faz – ele simplesmente acolhe as pessoas que entram no ônibus, cansadas, sufocadas pela jornada de trabalho, voltando para suas casas.
“Pode passar, meu senhor. Empresta a sacola aqui que eu seguro enquanto você paga”, pede educadamente e faz a sacola pular a velha e antiquada roleta que ainda tem a missão de contar os passageiros. “Boa noite, dona fulana. Aproveitou pra fazer o mercado. Paga aí que eu passo as sacolas”, e de novo repete o gesto. E repte quantas vezes for necessário.
Elogia o perfume da moça, pergunta dos filhos para o senhor ao lado. Conhece todo mundo e se interessa, sim, se demonstra um interesse humano por todos sem pesar na vida de ninguém. A notícia, quando pego o Jardim Molinari, muda – é possível ser gente e não morder o cachorro.
Você não é um cobrador, Antônio ‘Alemão’. Você de verdade é um trocador. Porque troca o limite da carranca e da irritação pela possibilidade concreta da alegria e do bom-humor onde quer que a gente esteja. Obrigado, por tornar meu retorno sempre mais leve e melhor, e despertar sempre em mim o desejo de abraçar todo mundo pelo caminho e em casa, incluindo meu cão e minhas gatas.
Viva a vida!
Obrigado por estar conosco aqui e dar seu depoimento, Isabel. Isso foi muito bacana. Avise o Alemão que a bondade dele virou notícia. Ele merece saber. Abraços e apareça sempre.
Eu o conheço desde criança, sempre foi assim um diferencial, amigo sincero sempre disposto a oferecer o melhor de si a quem quer que passar em seu caminho. E o retorno e o reconhecimento e o carinho recíproco que ele recebe de quem o conhece. Parabéns Alemão.