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Colegas de sala fazem vaquinha para ajudar idoso que começou a cursar engenharia e está morando nas ruas

Publicada em 10/05/2019 às 20:17

Um idoso de 60 anos está morando nas ruas desde fevereiro deste ano após ser aprovado no curso de engenharia química na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá. Motivados com a história de Carlos Toledo, após um professor fazer um post nas redes sociais, os alunos da turma dele decidiram fazer uma vaquinha online para ajudá-lo.

Carlos contou ao G1 que se mudou de São Paulo para Alto Araguaia, a 426 km de Cuiabá, em 2017, quando foi aprovado no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para cursar ciência da computação na Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat). No entanto, no final do ano passado, um processo seletivo foi aberto para o curso de engenharia química na UFMT, do qual Carlos participou e foi aprovado.

“Sempre sonhei trabalhar nessa área da química. Quando cheguei em Cuiabá, fiquei em um abrigo por 15 dias, mas o prazo venceu e, desde então, passei a morar nas ruas. É complicado viver assim, precisamos ser fortes. Ficamos expostos a bebidas, drogas, mas é experiência e está servindo de aprendizado”, ressaltou.

O professor do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), Juliano Batista do Santos, que está fazendo uma pesquisa de doutorado com moradores de rua, soube da história de Carlos e fez uma publicação nas redes sociais na segunda-feira (6). Foi então que os alunos da turma de Carlos se juntaram para ajudá-lo.

Os estudantes pretendem arrecadar R$ 5 mil com a vaquinha online. A intenção é comprar um celular para Carlos conseguir estudar e se comunicar com a família em São Paulo e o restante do dinheiro servirá para custear gastos pessoais dele, já que existe a expectativa de que a universidade conceda uma bolsa moradia para ele.

Juliano, que passou a acompanhar o estudante, disse que ele foi contemplado pelo edital do auxílio acolhimento da UFMT e está recebendo alimentação gratuita no Restaurante Universitário (RU) durante a semana. Ele também deve passar a receber um auxílio-moradia nessa semana até a publicação do edital de fluxo contínuo, que é uma ajuda permanente.

“Ainda não sabemos quando será a publicação do segundo edital. Caso não seja aprovado nesse edital, ele corre o risco de continuar morando nas ruas”, disse.

Como o curso é em tempo integral, Carlos não pode arrumar trabalho e, aos finais de semana, quando o RU está fechado, ele depende da ajuda de outras pessoas para conseguir se alimentar.

“Para esse fim de semana, tenho R$ 70 que um aluno me deu. Não bebo e não fumo, então dá para se manter nos fins de semana com o que as pessoas me ajudam”, avaliou.

Persistência

Carlos trabalhava como auxiliar de serviços gerais em São Paulo e morava na casa de familiares. Na capital paulista, ele deixou a mãe, irmãs e uma filha de 28 anos, a qual ele disse que não tem muito contato.

O estudante contou que sempre pegava livros nos terminais de São Paulo e estudava para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Fazia as leituras até no banheiro. Nunca quis ficar acomodado. Quero estudar e fazer algo útil para o próximo, quero ajudar as pessoas. Foi um passo de cada vez, aproveitei a oportunidade que ganhei e agora me mudei para Cuiabá com o objetivo de me formar”, ressaltou.

Depois que saiu do abrigo, em Cuiabá, Carlos dormiu algumas noites em frente à prefeitura com outros moradores de rua. Depois, passou a dormir no campus da universidade, mas como é proibido dormir no local, ele voltou a ficar em praças da cidade após a aula.

“Nunca perdi a motivação, nunca perdi a vontade de estudar. Tenho algo dentro de mim que me dá forças para não desistir de nada. Minha família ainda não sabe da minha situação, mas vou contar”, relevou.

Carlos disse que não pretende voltar a morar em São Paulo. Ele deve voltar à cidade apenas para visitar a família.“Quero ficar em Mato Grosso para trabalhar na área do agronegócio, em empresas de fertilizantes”, explicou.

Apesar de viver nas ruas, Carlos declarou ser uma pessoa feliz, pois está conseguindo conquistar o que sempre sonhou.

“Vivendo nas ruas, aprendemos a ter humildade e ver que todos somos iguais. Quando alcançar meus objetivos, vou olhar para essas pessoas com mais carinho. Quero dar aula para eles. Tem pessoas que querem ajuda, querem sair dessa situação e só precisam de alguém para apoiá-los”, avaliou.

Fonte: G1


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