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Entenda a química que torna a lavagem das mãos tão eficaz

Publicada em 16/03/2020 às 16:06

Diante da pandemia de coronavírus, das diferentes reações em cada parte do mundo e das dúvidas que a Covid-19 gera, uma recomendação é unanimidade entre especialistas: lavar bem as mãos com água e sabão é uma boa forma de diminuir as chances de infecção. Mas por que o sabão é tão eficaz assim contra vírus, bactérias e outros micro-organismos?

Lavar bem as mãos com água e sabão é uma boa forma de diminuir as chances de infecção.

Uma das principais funções do sabão é a remoção mecânica destes micro-organismos, além de outras sujeiras como poeira e graxa. Outro uso é evitar a circulação dos germes por aí.

“É por isso que essa é uma orientação dada para quem foi ao banheiro, vai preparar uma refeição ou tocar pessoas vulneráveis, independentemente de qualquer pandemia”, ressalta o infectologista Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.

Outra propriedade do sabonete é a de ser uma substância emulsificante, isto é, capaz de servir de “ponte” para unir moléculas que normalmente não ficariam unidas.

Essa função emulsificante ocorre porque as moléculas de sabão têm uma estrutura híbrida: enquanto um extremo da cadeia gruda na água (hidrofílica), a outra (hidrofóbica) evita água e adere a substâncias como óleos e gordura. No caso do coronavírus, o sabão se liga à proteção do organismo e a rompe, enfraquecendo-o e matando-o.

“As bactérias e boa parte dos vírus têm uma capa de gordura, chamada de membrana e envelope, respectivamente. A função dessa capa é proteger o micro-organismo do ambiente. O sabão rompe essa proteção, fazendo com que essas bactérias e vírus morram”, explica Laura de Freitas, doutora em Biociências e Biotecnologia na Unesp (Universidade Estadual Paulista).

O trabalho do sabão não acaba aí. Lembra que falamos sobre a remoção mecânica de sujeira? Isso ocorre porque mais moléculas do sabão unem a sua parte hidrofóbica aos restos dos vírus e outras sujeiras. Uma vez que você enxágua a mão e outras partes do corpo, a ponta hidrofílica das moléculas se liga às moléculas de água e descem ralo abaixo.

Mas, há vírus que não contam com esse envelope de gordura. E aí? “Eles ainda são eliminados pelo sabão, mas por um outro mecanismo, que é a interação com as proteínas que compõem esses micro-organismos”, complementa.

A ação do sabonete sobre os vírus tende a ocorrer de maneira imediata. Mas, esta eficiência também depende da concentração desses organismos em locais como as mãos. Para garantir a ação da substância —e também permitir a limpeza em toda a área— recomenda-se lavar as mãos de maneira lenta e atenciosa.

O vírus foge do sabão?

É bem provável que você já tenha cruzado com algum vídeo no qual uma pessoa molha o dedo em sabão ou detergente e, ao colocar em uma tigela com água e uma camada de pimenta, as partículas de “sujeira” —representadas pela pimenta— se afastam do dedo.

Nesses vídeos, é dito que “o vírus foge do sabão”, como uma forma de torná-lo lúdico, especialmente para incentivar crianças a lavarem as mãos. A intenção é nobre, mas a informação não é bem assim: o sabão age matando e removendo os restos do vírus, como explicado acima.

Mas então por que a “sujeira” se afasta do dedo? Simples: o sabão consegue romper a tensão superficial da parte da água que está ao redor do dedo. Já as moléculas de água mais afastadas não tiveram sua tensão rompida, por isso elas se contraem na direção oposta ao dedo, levando consigo a “sujeira”.

Qualquer um serve?

Uma dúvida recorrente na hora de comprar um desses produtos: vale a pena levar para casa um sabonete bactericida?

“Esses sabonetes vendem uma ideia que não é real. Eles de fato têm uma concentração maior de substâncias com ação bactericida, mas para efeito prático, os normais já dão conta”, salienta Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Além de não ser indispensável para eliminar micro-organismos, esse tipo de sabonete pode causar problemas se usado de maneira errada. “Nem se recomenda que eles sejam usados com frequência porque eles podem aumentar o número de bactérias resistentes no ambiente”, complementa Freitas.

E na hora de escolher entre sabonetes líquidos ou em barra? Aqui, o ideal é considerar em qual ambiente ele será usado. No caso de banheiros públicos ou com circulação de várias pessoas —o lavabo da sua casa, por exemplo— a melhor opção é usar sabonetes líquidos.

“Sabonete em barra é para uso pessoal. Em locais de uso coletivo, a tendência é que o suporte do produto acumule água e dejetos, o que não é higiênico”, alerta França.

Outro produto que deve ser evitado são os detergentes usados para a limpeza de utensílios de cozinha. Eles compartilham com os sabonetes as propriedades emulsificantes, mas tendem a ser mais agressivos.

Ao lavar as mãos com detergente, ele tende a remover as camadas de proteção da pele. Em casos extremos, isso pode deixar a região mais exposta a micro-organismos.

Álcool gel: use com critério

Outra substância bastante usada para a higiene das mãos é o álcool gel. Em contato com a proteína que compõe os vírus, ele provoca a chamada desnaturação proteica. Esse processo, basicamente, significa expor as proteínas a um meio diferente do qual elas foram geradas, o que gera um efeito parecido com o de uma coagulação.

Mesmo sendo extremamente eficiente para acabar com micro-organismos, o álcool gel não é a substância ideal para ser usada em todas as situações.

“Ao contrário da água e do sabão, o álcool gel não promove a remoção mecânica. Além disso, ele precisa ser usado com cuidado, já que há risco de acidentes, como quando alguém não espera ele secar e acaba passando a mão nos olhos”, diz Suleiman.

Aqui, vale duas dicas. A primeira é observar a sujeira das suas mãos: se ela é, de alguma forma visível, o ideal é usar água e sabão, não o álcool. A outra é pensar no álcool gel como um complemento para limpeza, para ser usado após lavar as mãos com água e sabão ou quando não há acesso a uma pia. E nunca como meio de higiene principal.

(Fonte/Foto: Uol)


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