Em tempos de isolamento, fiéis seguem líderes religiosos pela internet
Em tempos de crises e catástrofes, a espiritualidade surge sempre como grande ajuda. E para se atingir as coisas do espírito é preciso alimentar a fé, nutrir a esperança e praticar a caridade, a internet virou o caminho mais rápido, a ferramenta mais eficiente.
Como levar a um fiel aquilo que ele precisa, se está afastado dos grandes ritos, das liturgias cheias de pompa e longe dos templos, dos lugares de culto, tidos como abrigo e refúgio, sempre associados à proteção de Deus. Pastores, padres, pais de santo, imãs, rabinos, monges e monjas e seus equivalentes não titubearam. Reinventaram-se e levam ao discípulo, aos fiéis, aquilo que eles buscam via web.
A internet – nestes tempos de pandemia – se firma portanto como um lugar de culto, tomando aqui também parte da praça dos canais abertos ou por assinatura que transmitem cultos e celebrações de todos os tipos.
OS JUDEUS E AS SINAGOGAS
Em Jundiaí, não existem sinagogas. Mas de Campinas, dirigentes israelitas informam que para enfrentar a pandemia, uma pequena celebração, realizada na casa de um fiel, seria colocada em hangout (uma espécie de ‘sala de reunião eletrônica’). A Congregação Israelita Paulista decidiu fazer o serviço de shabbat via streaming para respeitar o isolamento social já na sexta-feira (13).
O novo método foi testado, mas ainda houve o serviço presencial. O público estava reduzido e espalhado pelas cadeiras da sinagoga. (https://cip.org.br/covid19/) O serviço de Cabalat Shabat será transmitido apenas on-line, estando suspenso o serviço presencial. O fiel pode acompanhar o serviço religioso pela página do Facebook e no canal do YouTube ou pelo site da Congregação (www.cip.org.br/aovivo/).
AS MESQUITAS E OS IMÃS
Os muçulmanos rezam cinco vezes por dia, voltados para Meca, de onde estiverem. O nome dado às cinco orações públicas que todo fiel muçulmano deve fazer diariamente é Salat – no alvorecer, ao meio-dia, entre o meio-dia e o pôr do sol, logo após o pôr do sol e pelo menos uma hora e meia após o pôr do sol e antes sem passar a meia noite.
O presidente da Câmara, Faouaz Taha é muçulmano e informa que essas cinco orações podem ser feitas de qualquer lugar digno onde estiver o fiel (nunca do banheiro) e que mesmo com a pandemia as mesquitas não usam o recurso de transmitir esses momentos via internet. Mas lembra que agora o melhora a fazer, para qualquer muçulmano, é rezar de casa. “É preciso respeitar a seriedade deste momento”, adverte.
CATÓLICOS DE JUNDIAÍ
Em Jundiaí, 14 paróquias – 66 instaladas em 11 municípios – transmitiram missas ao vivo, pela internet, no final de semana que passou. O bispo diocesano, dom Vicente Costa, padres e diáconos, têm transmitido mensagens de esperança praticamente todos os dias aos católicos e católicas, pelo Facebook, Instagram e WhatsApp – os recursos mais populares. Claro, ainda estão bem longe de alcançar a velocidade e a expertise do Papa Francisco nessa área. Mas a pandemia colocou a todos numa outra velocidade nas redes sociais.
Na paróquia matriz de São João Bosco, no Eloy Chaves, as celebrações feitas ao vivo (lives) pelo Facebook bateram 21 mil visualizações. As transmissões são feitas com equipamentos próprios da igreja e operadas por
voluntários – dependendo da celebração, com equipes pequenas. Na celebração virtual, feita domingo (22) pelo pároco, padre Michael Henrique, a missa foi acompanhada por 860 pessoas em tempo real. “É uma
forma de levar o amor de nosso Senhor àqueles que aguardam em casa o fim desta pandemia”, diz o sacerdote.
IGREJA QUADRANGULAR
O pastor Isaías Rezende Guimarães da Igreja do Evangelho Quadrangular Vila Esperança entende que as igrejas são um organismo vivo, onde são criados vínculos pessoais, afetivos, proximidade e a distância vira um desafio. Ele, pessoalmente, confessa que usava bem pouco a web para transmitir os cultos, antes da pandemia do Covid-19.
“A gente foi obrigado a usar como recurso a internet, para alimentar nossos irmãos, os membros, levando a eles um direcionamento, a Palavra de Deus, compartilhando-a pelas redes sociais, o único meio cabível de preservar a nossa fé e a fé dos irmãos. Neste domingo, nosso culto foi feito via Facebook e Instagram, alcançado pessoas sem o hábito de ir à igreja e outras com dificuldade de mobilidade. Isso mantém a chama viva, a esperança, a certeza de que a Palavra está se cumprindo e que é um tempo de olhar para o alto. Um tempo de nos aproximarmos dos irmãos, todos entendermos que estamos em sintonia de fé”, informou o pastor.
TEMPLO BUDISTA KADAMPA
Popular e querida na cidade, a monja Kelsang Chime avisa que em tempos difíceis é preciso ter soluções práticas. “Com a mente calma podemos perceber varias coisas. Primeiro, como ficar em casa, pode ser um bom motivo para nos conhecermos melhor”, pondera.
Para ela, a internet será a arma que vai vencer essa guerra contra a pandemia. “Estamos isolados mas nem tanto; sabemos de todos e todos sabem de nós. Eu, por exemplo, acabei de ganhar um netinho que mora perto mas não o conheço pessoalmente. Porém isso não muda meu amor por ele e nem faz sofrer. O apego faz sofrer”, diz a monja dando uma boa notícia: aulas de meditação serão disponibilizadas em video no site do Centro Budista Kadampa. (www.meditaremjundiai.org.br).
TENDA ESPÍRITA DE UMBANDA
O presidente da Tenda Espírita de Umbanda São Cosme e São Damião, Pai Bruno Brescancini Babalorixá, informa que tem usado a internet para fazer orações e orientar seus fiéis – que chama de filhos – como se cuidar. ” A fé não pode ser cega e a saúde espiritual e física caminham atrelados”, garante ele.
Pai Bruno informou que a tenda que dirige é uma das mais antigas da cidade, com cerca de 60 anos. E que recentemente produziu e colocou no ar campanha na internet com um video onde os médiuns da casa pediram para que todos fiquem em casa. “É o melhor a fazer neste momento”, disse. (Por Pedro Fávaro Jr.)
A CAMPANHA CONTRA O CORONAVÍRUS DA TENDA SÃO COSME E DAMIÃO