Retorno do FaceApp levanta debate sobre segurança e privacidade
O FaceApp, aplicativo já conhecido por deixar as pessoas com aparência mais velha, voltou a fazer sucesso nas redes sociais neste fim de semana com o filtro para “mudar” de gênero.
A hashtag “faceappchallenge” (desafio do FaceApp, em português) conta com mais de 198 mil publicações no Instagram, e celebridades como Chris Evans, Wesley Safadão e Tatá Werneck participaram da brincadeira, segundo aponta o site Tecmundo.
Especialistas garantem que a Política de Privacidade do FaceApp é considerada vaga por ser padronizada, o que “efetivamente oferece nenhuma proteção”.
O jornalista Paulo Brito, expert em segurança cibernética e ligado à Jundiaí como fundador da Imprensa Oficial, comenta o assunto para o TVTEC News. Lembra que os crimes cibernéticos movimentam, por ano, cifra da ordem de US$ 1 trilhão.
“O FaceApp, como outros aplicativos, pode ser comparado a uma faca de cozinha. As pessoas bem intencionadas a usam para as refeições. Mas um agressor dá a ela um uso violento”, compara. Acompanhe a entrevista do jornalista, editor do site CISO Advisor.
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TVTEC NEWS – Como você enxerga a afirmação de especialistas da área dizendo sobre a Política de Privacidade do FaceApp?
PAULO BRITO – Sobre a política de privacidade do FaceApp, a principal observação é que infelizmente ela não é uma garantia. Uma política de privacidade pode ser até uma declaração de boas intenções. Mas ela só serve como garantia legal das intenções de alguém ou de uma empresa. Não impede outras coisas.
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Então, o que parece tão divertido, tão “brincadeira”, oferece riscos sérios para quem está usando o aplicativo?
Aquilo que o FaceApp está trazendo como diversão para as pessoas que instalam esse aplicativo é a ponta do iceberg de um problema muito maior que é a falsificação de identidades. A transformação exibida nesse aplicativo é feita com o uso de inteligência artificial, e esse tipo de transformação pode ser utilizado para o bem ou para o mal. Quando é para o bem, fica até divertido ver a transformação de uma pessoa que conhecemos.
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TVTEC NEWS – Mas de que modo isso pode vir a acontecer? Quem é leigo nem sonha com isso…mo tantos outros, não é seguro?
Aquilo que se vê no envelhecimento simulado de pessoas jovens no FaceApp é potencializado em outras aplicações que são capazes, por exemplo, de gerar imagens de pessoas que nunca existiram e que jamais irão existir. Ou de criar vídeos de pessoas existentes, mas em ações que elas nunca realizaram. Ou, ainda, reproduzir o timbre e o ritmo de qualquer voz para falsificar a fala de alguém dizendo qualquer coisa. A combinação desses recursos com aqueles que já existem para a geração de dados pessoais falsos (CPF, conta bancária, CNH, RG e tudo o mais) pode transformar esse tipo de solução de inteligência artificial em uma arma ou ameaça a pessoas, grupos sociais ou sociedades.
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TVTEC NEWS – Recursos como esses podem ser usados como?
Agora que as eleições se aproximam, eu pessoalmente acho que esses recursos serão utilizados para a criação de fake News com características tão realistas que será difícil distingui-las de uma notícia verdadeira.
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TVTEC NEWS – Como as empresas do setor que também são potenciais alvos para os criminosos desse setor estão agindo?
Com relação a isso, empresas como Google e Facebook estão investindo muito em ferramentas capazes de fazer essa distinção e separar o joio do trigo. A principal mensagem que podemos tirar dessas informações é a de que não devemos acreditar – sem um mínimo de crítica e de checagem – nas notícias recebidas fora dos canais tradicionais, oficiais e conhecidos. Nesse caso eu me refiro a veículos de comunicação que estão no mercado há décadas ou há mais de um século, entregando informação confiável. (PFJr.)
(Imagens: Arquivo Pessoal/ TechMundo)