TVTEC realiza primeiro workshop online de Libras de Jundiaí
A TVTEC realiza, no dia 6 de julho, o primeiro workshop online de Língua Brasileira de Sinais (Libras) – “Libras no Cotidiano”. Um dos ministradores do workshop será Luciano Germano Luiz Gonçalves, casado, de 43 anos. Ele vive como professor, tradutor e intérprete de Libras e, coincidentemente, sua história esbarra com a Argos Industrial – hoje Complexo Argos – onde sua avó, mãe de seu pai, trabalhava como tecelã na década de 1950.
Humilde, com poucos recursos, dona Carmem Sacramoni Gonçalves levava seu filho Germano Luiz ao trabalho e ele ficava na Creche da Argos. “Meu pai, em 1951, era um menino de 10 anos, completamente surdo e não se comunicava de modo algum – nem por leitura labial, nem por escrita, nada”, conta Luciano.
Um dia a creche foi visitada por uma assistente social de São Paulo conhecer o trabalho da creche que se interessou por Germano. A oferta era levá-lo ao Rio de Janeiro onde a assistência e formação seria patrocinada num colégio especial para surdos, o Instituto Nacional de Educação para Surdos.
“Com dor no coração, mas corajosamente, minha avó concordou e ele foi morar no colégio, sozinho, com 11 anos. Minha avó não tinha como ir morar com ele. Não podia deixar o trabalho”, explica o professor. “Ele voltou para Jundiaí com 17 anos, sabendo a Língua de Sinais, sabendo ler e escrever e tendo a comunicação com a família”, acrescenta.
Germano Luiz Gonçalves, pai de Luciano, foi o primeiro surdo a trazer a Língua Brasileira de Sinais a Jundiaí e começou a ensinar as crianças e pessoas surdas da cidade. Com o apoio do poder público, Germano fundou mais tarde o Clube dos Surdos. “Eu e minhas irmãs aprendemos Libras com nosso pais, surdos, na minha casa. E temos orgulho disso”, revela Luciano que está produzindo um livro com a história do pai.
LIBRAS NO COTIDIANO
Sobre o workshop, Luciano informa que a definição do tema, “Libras no Cotidiano”, levou em conta a necessidade de muitas vezes, numa situação do dia a dia, alguém precisar se comunicar com uma pessoa surda. “Alguém que esteja pedindo orientação, por exemplo, sobre como ir até um terminal de ônibus”, argumenta.
O professor falou também sobre a questão da inclusão que considera complexa. Para ilustrar, contou a história recente de um casal surdo que foi, nesses tempos de pandemia, comprar um lanche no drive-thru de uma lanchonete local. “Eles ficaram 45 minutos até que alguém os compreendesse, mesmo usando Libras”, frisou.
Por fim, elogiou o trabalho da TVTEC e da Prefeitura de Jundiaí, relacionado ao isolamento social e à pandemia do Novo Coronavírus. “A necessidade de nosso trabalho foi compreendida e acolhida pela Prefeitura e pela TVTEC. Quantos surdos estariam desinformados sobre a questão do Coronavírus se não fosse isso”, raciocina Luciano.
Segundo ele, saber sobre um leito, sobre o que fazer em relação às maneiras de se proteger do contágio, de como está a situação na cidade, tem um nome: acessibilidade. “Felizmente isso acontece aqui, mas em nível Brasil, falta muito ainda de acessibilidade. Temos os surdos, cadeirantes, deficientes visuais. Na verdade, nós temos que ser mais acessíveis a essas pessoas. E esse workshop que realizaremos na TVTEC abre novas possibilidades para tanto”, garante. (Por Pedro Fávaro Jr.)