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Brincar, a chave do desenvolvimento na Educação Infantil

Publicada em 19/06/2020 às 15:23

O professor Levindo Carvalho, doutor em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais, abordou o tema “As brincadeiras e as interações na Educação Infantil em tempos de quarentena”, na teleconferência Educação em Tempos de Pandemia, programa transmitido ao vivo, pela TVTEC nas redes sociais (Facebook e YouTube) e no Canal 24 da NET. A professora Vasti Ferrari Marques, gestora de Educação de Jundiaí foi a entrevistadora.

Vasti iniciou a abordagem do assunto, mais uma vez, a partir de um livro do professor, educador, filósofo e teólogo Rubem Alves. Dessa vez o escolhido foi “Vamos construir uma casa”, uma provocação sobre a maneira de educar as crianças, a partir de um modelo nórdico e da experiência do velejador solitário Amir Klink.

A ideia central da entrevista foi a de que se o despertar da inteligência começa com a Educação, o Ensino Infantil precisa se livrar das amarras das lógicas autoritárias, adultocentradas e deve levar em conta as diferentes dimensões na formação das crianças, a começar pelas brincadeiras.

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VASTI – Nosso tema é especial. Tudo que queremos é que a infância seja vivida plenamente por todos os meninos e meninas. Hoje eles estão todos em suas casas. Como vamos trabalhar isso nesse momento?

LEVINDO – É interessante lembrar que a história da Educação Infantil ajuda a compreender a criança como sujeito social e como sujeito de direitos na Educação. A Educação Infantil surge como um direito da família trabalhadora, da mãe trabalhadora, mas quando ela migra da assistência social para a Educação ela ganha uma especificidade que nunca podemos esquecer.

Educar e cuidar

Nesse momento que vivemos, é interessante pensar que a Educação Infantil já tem no cerne de sua história a indissociabilidade entre cuidar e educar. Agora estamos muito mais atentos à dimensão do cuidado, da saúde pública, que já era inerente à prática da educação infantil. Outra coisa que não é a toa, é que chamamos de Educação Infantil, não ensino infantil, que nasce do pressuposto de uma educação integral, que contemple diferentes dimensões de formação das crianças.

Importância de brincar

No contexto de excepcionalidade que vivemos agora, não precisamos perder de contexto o que está colocado como direito das crianças – o direito a conviver, a brincar, participar, explorar, expressar, conhecer… Compreender a importância da brincadeira e das interações é reconhecer o que é ser criança e a importância desse tempo da vida na nossa formação.

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Uma das coisas mais importantes são as rodas no começo das aulas, das crianças maiores e menores, quando o professor está lendo uma história, estão cantando… Como é essa roda, no início do ano letivo e como ela é no final? Quantas competências, habilidades. as crianças aprendem nesse momento da roda, que é muito especial – roda de conversa, de história? Essa escola precisa ter um currículo?

Sim. Sem dúvida. Na verdade, ao enxergar o processo de Educação Infantil como escola isso não significa que vamos reproduzir a escola de Educação Fundamental na Educação Infantil. Assim como não significa que a gente vai entendê-la como etapa preparatória para o Ensino Fundamental que a gente tem na sequência.

Tempo estruturante

Esse tempo das crianças não é uma preparação para o que vem depois. Ele é estruturante para diferentes experiências que as crianças precisam viver e para que elas tenham a oportunidade de se desenvolver integralmente. A etapa e o currículo da Educação Infantil, eu acho, podem inspirar a escola de Ensino Fundamental a transformar suas práticas.

Aprendizado na interação

Temos que pensar em construir uma escola de Educação Infantil que rompa com lógicas autoritárias, adultocentradas, mais rígidas, em que as crianças acabam por não ser sujeitos, mas meros objetos passivos que estão ali para receber o conhecimento… As crianças aprendem na interação com elas.

Eixo das brincadeiras

Assim, toda prática educativa, na Educação Infantil, ocorre tendo como eixos as brincadeiras e as interações. O exemplo da roda é muito importante… Na Educação Infantil, brincar é parte da aula…No brincar as crianças constroem papéis sociais, inauguram a própria experiência da cidadania.

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Vasti e Levindo assistem vídeo do garoto Heitor que atende a proposta da professora de construir, em casa, um paraquedas. O pai o ajuda. Na teleconferência, os especialistas comentam  e refletem sobre o fato.

VASTI – Quando o Heitor faz o paraquedas com o pai e o pai o ensina, podemos refletir sobre a importância do papel da família nesse momento de isolamento, onde existe o lado da aproximação familiar que está num crescente. Os pais percebem o momento rico de estar com os filhos, de brincar com eles. E (o momento) remete o pai também à infância. Como esse tempo pode promover a colaboração entre pais, filhos e a escola?

LUCINDO – É um exemplo especial. De fato, uma referência importante do tipo de relação que estabelecemos com as crianças, é a nossa própria infância. Gosto muito de pensar da criança que fui ao professor que sou, da criança que fui ao adulto que sou. Como as experiências de infância me constituíram…

Marcas positivas

É muito instigante quando a gente pede para um grupo de adultos pensar nas suas experiências ou nas suas memórias positivas da infância. Quase sempre eles lembram do brincar… Do brincar no quintal, do brincar na casa da avó, quase sempre ligadas a experiências com elementos da natureza, no coletivo das crianças. Nossas memórias de infância são muito mais marcadas por esses positivos, pelas experiências lúdicas, imaginativas, inventivas, do que pela experiência daquela escola rígida pela qual muitos de nós passamos.

Momento especial

Então, esse pode ser um momento muito especial para as crianças, com as famílias e os adultos que podem recuperar essas suas memórias de infância e dividirem com as crianças esses momentos, esse repertório de brincadeiras que fez parte de sua própria infância. Podemos chamar esse repertório de repertório da cultura popular infantil.

Patrimônio cultural

Trata-se de um patrimônio cultural que não está necessariamente registrado em livros, mas que foi transferido de geração para geração, pela oralidade, e compõe um patrimônio que também constitui a identidade das famílias de Jundiaí. Isso acontecia anteriormente pelas ruas, quando as crianças tinham a chance de brincar pelas ruas – mas o contexto urbano mudou muito.

Ganho do isolamento

Talvez esse seja um ganho do isolamento – permitir que esse repertório (de brincadeiras) possa emergir com mais potência. Eu convido as famílias a fazer um registro de toda experiência infantil, jogos, brincadeiras cantadas, brincadeiras com o corpo, brinquedos construídos – isso pode ser um momento muito bonito de troca que vai fazer com que esse repertório seja revivido. Claro que nesse momento em que as famílias estão reunidas, isso vai gerar uma mudança radical na rotina, porém permitirá a construção de laços afetivos e de experiência de um cotidiano novo.


Link original: https://tvtecjundiai.com.br/news/2020/06/19/brincar-a-chave-do-desenvolvimento-na-educacao-infantil/

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