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Qual o real impacto causado pelos gafanhotos e insetos que se movem em “nuvens” ?

Publicada em 27/06/2020 às 10:17

Borboletas e libélulas, por exemplo, usam o hábito gregário na busca por alimentos e para perpetuar a espécie. Guiados pela luz, pela lua ou até pelas movimentações de massas de ar, como é o caso dos gafanhotos, os bichos se mantêm unidos e alinhados em relação ao destino pretendido. “A movimentação dos gafanhotos é bem característica, principalmente por ser um fenômeno muito visível”, explica a pesquisadora taxonomista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Dra. Kátia Matiotti, especialista nesses animais.

Fotos aéreas de Giruá no Rio Grande do Sul dão demonstração de áreas de plantações ameaçadas pela ação dos gafanhotos polífagos, que comem qualquer tipo de verde que vejam na frente   — Foto: César Cocco/Acervo Pessoal

Fotos aéreas de Giruá no Rio Grande do Sul dão demonstração de áreas de plantações ameaçadas pela ação dos gafanhotos polífagos, que comem qualquer tipo de verde que vejam na frente — Foto: César Cocco/Acervo Pessoal

Mas qual é a vantagem de um inseto se aglomerar dessa forma? A resposta pode começar a ser compreendida por um ditado: a união faz a força. Se um inseto isolado poderia ser uma presa frágil para predadores, um conjunto tem potencial de ser preservado e não predado. Tais aglomerados espantam não só em voo, imagens impressionantes mostram até centenas de larvas e minhocas fazendo uso da estratégia.

Outros fatores, além do instinto protetivo, ajudam a manifestar essa “vontade” de aglomeração. O professor Ângelo Parise Pinto do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pesquisa insetos aquáticos, mas começou a se aprofundar no fenômeno da migração devido às libélulas terem esse hábito e explica: “o movimento migratório se desencadeia através de respostas às condições ambientais. Elas geram um gatilho e instigam os insetos a realizarem determinados comportamentos”.

Emater orienta produtores da Fronteira Oeste a monitorar chegada de nuvem de gafanhotos — Foto: Reprodução/G1

Os gafanhotos responsáveis pelas temidas nuvens que ameaçam o Sul do Brasil são considerados insetos solitários e sedentários por grande parte da vida. A situação muda quando variações como a falta de alimentos fazem que com se aglomerem, competindo pelos recursos. O fato de estarem juntos libera substâncias no sistema nervoso que os torna mais sociáveis e dispostos à convivência.

“Esse comportamento se inicia ainda quando não têm asas e, por isso, se deslocam marchando no chão, como um exército. Quando fazem a muda para fase alada, acabam se lançando nesse comportamento migratório em direção às áreas onde terão umidade do solo e disponibilidade de recursos vegetais”, explica o especialista em insetos Ângelo Parise Pinto.

Conheça alguns detalhes curiosos sobre os gafanhotos e seu desenvolvimento — Foto: Arte/TG

Conheça alguns detalhes curiosos sobre os gafanhotos e seu desenvolvimento — Foto: Arte/TG

No mundo todo, há mais de 7 mil de espécies de gafanhotos, aproximadamente 4 mil vivem no Brasil. Do total, cerca de 20 realizam o comportamento migratório.

Começar a “gostar” de viver em grupos e ser capaz de voar não são as únicas mudanças que ocorrem nesses seres. O gatilho mencionado pelo professor faz com que as pernas mudem de tamanho, o inseto adquira novas cores e até garante condições de se alimentar de plantas que são tóxicas para outros animais. Mas essa manifestação de comportamento pode não ser sempre natural, como explica Matiotti: “o desequilíbrio ambiental tem provocado isso, tanto pelo clima quanto pelo uso de agrotóxicos e o extermínio dos inimigos naturais deles”.

Gafanhoto-soldado foi registrado durante duas de suas fases de vida: preto e vermelho quando imaturo e amarelo e verde ao se tornar adulto — Foto: Fernando Lacerda/VCnoTG

Gafanhoto-soldado foi registrado durante duas de suas fases de vida: preto e vermelho quando imaturo e amarelo e verde ao se tornar adulto — Foto: Fernando Lacerda/VCnoTG

Schistocerca cancellata é a espécie de gafanhoto que se aproxima do Brasil; fêmeas possuem poucos mais de 6 centímetros e machos são um pouco menores — Foto: A.P. Pinto - Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure, Departamento de Zoologia, UFPR, Curitiba (DZUP)

Schistocerca cancellata é a espécie de gafanhoto que se aproxima do Brasil; fêmeas possuem poucos mais de 6 centímetros e machos são um pouco menores — Foto: A.P. Pinto – Coleção Entomológica Padre Jesus Santiago Moure, Departamento de Zoologia, UFPR, Curitiba (DZUP)

É importante dizer que a tendência é vermos insetos como vilões, porém os serviços que estes animais prestam à humanidade são muito superiores aos danos. Eles existem há mais de 400 milhões anos e possuem mais de um milhão de espécies. Então sempre digo: os insetos vivem sem a gente, mas nós não vivemos sem eles.
(Fonte: G1)

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