‘Cães-detetives’ identificam casos de COVID-19 pelo cheiro com mais de 90% de precisão
Conheça Marlow, Tala, Millie, Lexi, Kyp e Asher: os seis “cachorros-detetives” que, num estudo feito por um centro de pesquisa canina e duas universidades britânicas, conseguiram detectar o vÃrus da COVID-19 em centenas de amostras com mais de 90% de precisão. Além dos cachorros, o estudo também testou a capacidade de sensores detectarem o vÃrus.
A pesquisa ainda não está revisada por outros cientistas e nem publicada em revista, mas foi divulgada na sexta-feira (21) e já está disponÃvel online. Já os sensores tiveram 98% de sensibilidade – o que significa baixÃssima chance de falso negativo – e 99% a 100% de especificidade – indicando baixÃssima chance de falso positivo.
Os cachorros foram capazes de detectar odores tanto em pessoas sem sintomas quanto naquelas com duas cepas diferentes do vÃrus, e com cargas virais altas e baixas. Uma das autoras da pesquisa, a cientista Claire Guest, é diretora de um centro de pesquisa, a Medical Detection Dogs, que já investigava como cachorros podem ajudar no diagnóstico de outras doenças, como câncer e diabetes.
A cientista liderou o estudo junto com Sarah Dewhirst, da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM, na sigla em inglês). A pesquisa teve a participação de dezenas de outros cientistas.
Segundo as especialistas, o estudo é o primeiro a avaliar se cães treinados podem distinguir entre o odor de pessoas infectadas com o coronavÃrus e o daquelas não infectadas, com um número suficientemente alto de cães e de amostras.
“Saber que podemos aproveitar o incrÃvel poder do nariz de um cachorro para detectar a Covid-19 de forma rápida e não invasiva nos dá esperança de um retorno a um estilo de vida mais normal por meio de viagens mais seguras e acesso a locais públicos, para que possamos novamente socializar com famÃlia e amigos”, completou Guest.
Um modelo matemático que acompanha o estudo destaca justamente o potencial de cachorros serem usados em aeroportos: dois cães poderiam rastrear 300 passageiros de avião em cerca de 30 minutos. Dessa forma, apenas as pessoas identificadas como positivas pelos cachorros necessitariam de um teste do tipo PCR, considerado “padrão ouro” de diagnóstico da COVID-19.
A estimativa das cientistas é que o rastreio pelos cachorros e o uso de um teste PCR confirmatório detecte até 91% dos casos e evite 2,2 vezes mais a transmissão da COVID-19 do que isolar apenas pessoas com sintomas.
Segundo as cientistas, isso já foi observado em relatos sobre a presença de cães detectores de explosivos e drogas servindo como um dispositivo visual que faz as pessoas desistirem de levar explosivos e drogas a locais públicos.
O “rastreio canino” de passageiros com COVID-19 já foi testado em alguns aeroportos, como o de Helsinki, na Finlândia, e Moscou, na Rússia. As pesquisadoras britânicas reconhecem, entretanto, que os resultados foram obtidos em um ambiente controlado, de teste, e com amostras – mas acreditam que os achados podem ser replicados no mundo real.
O estudo
Para o treinamento dos cachorros, foram recolhidas amostras de odor de 1.097 pessoas infectadas com o coronavÃrus e de 2.031 não infectadas. O diagnóstico foi confirmado por PCR.
Após a fase de treinamento, os cachorros foram para o teste duplo-cego – em que nem os cachorros, nem os pesquisadores envolvidos sabiam quais eram as amostras infectadas. Os ensaios foram feitos da seguinte forma:
- Os cães cheiraram 200 meias de pessoas infectadas e outras 200 meias de pessoas não infectadas. As pessoas infectadas podiam ou não ter sintomas.
- As amostras eram divididas em grupos de 3 e ficavam em um estande (veja foto abaixo). Os cachorros precisavam decidir entre “infectado ou não infectado” para cada amostra.
- Cada amostra foi apresentada a cada cão uma vez, com um máximo de três explorações permitidas a critério do treinador.
- Um software de computador foi usado para atribuir amostras de cheiros aleatoriamente para os testes. Portanto, o sistema de três estandes poderia ter qualquer combinação de amostras: todas infectadas, todas não infectadas ou qualquer combinação de infectadas/não infectadas em três posições.
- Cada amostra de meia foi cortada em quatro peças, cada uma com aproximadamente 80x20mm², e seladas individualmente em frascos ventilados, para evitar o contato direto do cão e seu treinador com as amostras, e armazenado a -20°C antes do uso.
- Já os sensores testados foram do tipo semicondutor orgânico: eles foram testados ao capturarem o perfil de composto orgânico volátil das amostras de odores.
(Texto/Imagem: G1)