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Hospital do Coração testará nova vacina contra COVID-19

Publicada em 01/06/2021 às 14:03

Os testes das fases 1 e 2 de uma das candidatas a vacina nacional contra a COVID-19 serão coordenados pelo HCor e as pré-inscrições para voluntários foram abertas nesta terça-feira, 1º. Essas etapas dos estudos com a vacina Versamune, desenvolvida pela USP Ribeirão Preto e financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), vão contar com a participação de 360 voluntários, mas o início dos testes ainda depende de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). De acordo com os pesquisadores, ela se mostrou eficaz em testes pré-clínicos.

A meta dos pesquisadores é iniciar o estudo ainda neste mês e encerrar as pesquisas das duas etapas até outubro. A expectativa é que os resultados de fase 3 sejam concluídos no próximo ano.

“Essa vacina já passou pelas fases pré-clínica, validação in vitro e em animais. Os estudos em animais demonstraram que a vacina gera uma resposta imunológica. Será um estudo que terá randomização para definir se o voluntário vai receber vacina ou placebo. A cada três participantes, dois vão receber a vacina e o outro, placebo. Vamos testar doses de 25 e de 75 microgramas com intervalo de 28 dias”, detalha Alexandre Biasi, diretor do Instituto de Pesquisa do HCor.

Os trabalhos com o possível imunizante tiveram início em abril do ano passado, por meio de uma parceria entre a startup de biotecnologia Farmacore, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP e a empresa norte-americana PDS Biotechnology.

“A vacina tem duas partes. Um parte é uma proteína produzida em laboratório, não é um pedaço do vírus, que é muito parecida, quase idêntica à Spike do Sars-CoV-2. Parece uma subunidade. A outra é um carreador, um tipo de esfera de lipídeo, que carrega a proteína dentro da corrente sanguínea. Quando acontece de a pessoa entrar em contato com o vírus, ela faz com que o organismo gere uma resposta imunológica”, explica Biasi. A tecnologia também permite ajustes para que a vacina se adapte às variantes que estão surgindo.

Nos estudos pré-clínicos, segundo Helena Faccioli, CEO da Farmacore Biotecnologia, o imunizante se mostrou seguro e capaz de ativar o sistema imunológico. “A tecnologia ativa especificamente vias imunológicas críticas necessárias para poderosas respostas de células T e anticorpos neutralizantes. Ela tem capacidade de induzir níveis relevantes de células T CD8+, assassinas, específicas da doença. Além de ser uma tecnologia mais segura em relação ao processo de produção, pois não exige níveis elevamos de biossegurança”, completa.

Os dados dos ensaios da Versamune®-CoV-2FC foram entregues à Anvisa no fim de março e a agência solicitou informações complementares. “Atualmente, o processo aguarda a apresentação de dados e documentos para dar continuidade à exigência. O prazo para cumprimento é de até 120 dias. A empresa solicitou uma agenda de reunião, cuja pauta será a discussão para um cronograma de apresentação dos documentos”, informou.

Para ser voluntário, é preciso ter mais de 18 anos, não ter tomado vacina contra a COVID-19 nem ter sido infectado pela doença. A pré-inscrições podem ser feitas aqui e os participantes serão acompanhados por um ano. Por causa do avanço da imunização no País, caso chegue a faixa etária da vacinação dos voluntários, os dados serão abertos para que eles não percam a oportunidade de se vacinar com as opções já disponíveis, diz Biasi.

Investimento para imunizante teve veto de R$ 200 milhões de Bolsonaro
Anunciada como vacina “100% brasileira” pelo governo federal em março, a Versamune está entre as apostas do MCTI para combate ao novo coronavírus. Embora o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Marcos Pontes tenha falado positivamente sobre a vacina, inclusive em uma das lives de Jair Bolsonaro, o presidente vetou, em abril, R$ 200 milhões que seriam usados no desenvolvimento do imunizante. A reportagem entrou em contato com o ministério para um posicionamento, mas a pasta não respondeu.

De acordo com a CEO da Farmacore, o investimento inicial do governo federal para as pesquisas não clínicas foi de, aproximadamente, R$ 3,8 milhões. “Para o ensaio clínico de fase 1 e 2, o consórcio está buscando recursos com o governo federal estimados em R$30 milhões, que compreendem tanto o desenvolvimento do lote para o estudo quanto a definição de rendimentos de produção e estabelecimento das condições para produção industrial. Após realização desses estudos e aprovação do relatório da Anvisa, o investimento para a fase 3, em virtude do grande número de voluntários, logística de aplicação, estudos estatísticos, relatórios técnicos diversos e toda a questão logística envolvida no processo, deverá girar em torno dos R$ 300 milhões.”

Segundo Helena, o corte que atingiu o ministério ainda não atingiu o projeto da vacina. “Esse montante citado como corte do orçamento engloba parte do valor necessário para a realização do ensaio de fase 3. Ainda temos que executar os ensaios das fases 1 e 2, para, então, avançar à fase 3. Até lá, esperamos que o ministério consiga recompor essa verba de alguma forma.”

(Texto: Estadão/Imagem: Arquivo)


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