Avanço da vacinação reduz média de idade dos pacientes com COVID em hospitais privados de SP
O avanço da vacinação contra a COVID-19 está diminuindo a média de idade de pacientes que ocupam leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade de São Paulo. Além da queda momentânea no número de internações, alguns dos principais hospitais da capital paulista estão registrando diminuição percentual em faixas de pacientes com mais de 60 anos.
“Em 2020, a maior parcela de pacientes internados com covid 31,5%, (na unidade de São Paulo do Hospital Sírio-Libanês) tinha entre 60 e 74 anos. No período de 30 de maio a 12 de junho, apenas 13,7% dos internados estavam nessa faixa etária”, diz o gerente de Pacientes Internados e Práticas Médicas do Hospital Sírio-Libanês, o médico Felipe Duarte.
Ainda no recorte de maio a junho deste ano, houve aumento em relação a 2020 de pacientes internados que têm entre 45 e 59 anos, parcela que foi de 28,4% a 39,4% do total, e de pessoas de 30 a 44 anos, grupo que cresceu de 16,1% para 29%.
“A diminuição no número de pacientes internados com idade mais avançada demonstra uma resposta positiva à campanha de vacinação, já que esses grupos foram os primeiros a receber os imunizantes”, destaca. Além disso, o que pode explicar o aumento do número de casos entre os mais jovens, segundo o médico, é o fato de eles estarem mais expostos ao vírus por saírem para trabalhar e realizar outras atividades.
A análise coincide com o que observa o diretor da Fiocruz SP e professor de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Rodrigo Stabeli. Segundo o pesquisador, o progresso da vacinação está surtindo efeitos no perfil dos pacientes internados — principalmente depois que as pessoas estão tomando a segunda dose da vacina e que o grupo de risco está terminando de ser imunizado.
“A gente tem observado uma diminuição gritante no número de internações e óbitos nessa faixa etária (de pessoas com mais de 60 anos). Isso é um dado ainda secundário da eficiência vacinal porque ainda não temos dados publicados formalmente, mas é isso”, explica Stabeli. “Essa observação já é feita não só no Estado de São Paulo, mas em outros Estados, também. Como no Rio Grande do Norte, que é um Estado que tem mostrado bastante essa diminuição de internação e óbitos depois da segunda dose da vacina.”
Um levantamento da Epidemiologia do HCor, de São Paulo, aponta que a média de idade de pacientes internados em UTI com covid-19 no hospital vem caindo gradativamente. A média de idade era de 70,2 anos em dezembro de 2020, passou para 64,5 em março deste ano e chegou a 62,8 em junho.
Já no Hospital Alemão Oswaldo Cruz a idade média dos pacientes caiu dez anos no primeiro semestre de 2021, quando comparado ao segundo semestre de 2020. “A média de idade dos pacientes era de 67 anos no primeiro semestre de 2020 e agora está em 57 anos”, informou o hospital. O fenômeno é similar ao observado na Rede de Hospitais São Camilo.
“De um ano para cá, foi observada uma alteração no perfil dos pacientes, sobretudo relacionada à faixa etária. À época, o público acima de 60 anos era a maioria”, diz a Rede. “Atualmente, 50% das pessoas internadas para o tratamento da doença possuem entre 40 e 49 anos, percentual que sofreu leve oscilação nos últimos dez dias, uma vez que, em 11 de junho, esse percentual era de 54%.”
A bioquímica, neurocientista e coordenadora da Rede Análise Covid-19, Mellanie Fontes-Dutra, explica que é possível, de fato, que as faixas etárias em que há uma boa porcentagem de pessoas imunizadas já estejam demonstrando os efeitos positivos da vacinação. Mas relembra que, como o País ainda tem uma baixa porcentagem de pessoas imunizadas com duas doses, outras ações precisam ser adotadas.
“Precisamos somar (a imunidade promovida pela vacinação) com medidas não farmacológicas, como uso de máscaras como PFF2 e distanciamento, juntamente de medidas por parte dos gestores para o controle da transmissão enquanto estamos buscando a cobertura vacinal”, destaca Fontes-Dutra.
Contaminação em alta
Para Stabeli, um dos fatores que explica um maior predomínio de adultos internados neste momento da pandemia é o “superespalhamento da doença”, que acabou aumentando, segundo o professor, devido ao desgaste da população em relação às medidas restritivas.
“Mesmo porque não adianta fazer medida restritiva descoordenada com informação em saúde, descoordenada com uma política nacional que possa fazer uma recuperação de emprego e renda das famílias. O governo federal não se preocupou em fazer uma política coordenada que pudesse cuidar da saúde, da educação e também da economia, do bem-estar das pessoas”, reforça. “Como isso não foi feito, a gente tem um desgaste principalmente das pessoas que são economicamente ativas.”
Segundo Mellanie Fontes-Dutra, essa alta taxa de transmissão tem feito com que cada vez mais jovens ocupem leitos de UTI e solicitem hospitalização. “Mesmo pessoas sem comorbidades ou não pertencentes a grupos prioritários também podem pegar covid-19, desenvolver a doença e (ver o quadro se) agravar. Portanto, todos precisamos nos cuidar enquanto indivíduos e enquanto sociedade”, completa.
A médica e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Mônica Levi destaca que o País está passando por uma situação epidemiológica grave. “Enquanto a gente tem as altas taxas de 2 mil mortos por dia, a gente não pode se dar ao luxo de manter as medidas de restrição sendo flexibilizadas”, diz a médica. Ela relembra ainda que o combate à pandemia deve ser uma estratégia coletiva e que a parcela que tomou a 2ª contra a COVID-19 ainda é muito pequena no País.
Um outro ponto de atenção é que, caso a variante Delta (cepa indiana) se espalhe pelo Brasil, é possível que ocorra uma nova lotação de leitos de UTI. “Estamos muito aquém do que poderíamos estar se estivéssemos vacinando rápido. Obviamente, pessoas que saem para trabalhar e que dependem do ganho diário não são culpadas, é todo um contexto governamental”, explica Levi.
Por outro lado, a médica reforça que a diminuição na média de idade dos pacientes de COVID-19 que estão ocupando leitos nos hospitais está de acordo com o que é esperado com o avanço da vacinação contra a COVID-19 no Brasil.
(Texto/Imagem: Estadão)