‘Som das Ruas’: projeto leva música para pessoas em situação de rua em Jundiaí

Levar música nacional e popular para pessoas em situação de rua através de oficinas de apresentações. Esta é a intenção do projeto “Som das Ruas”, que foi colocado em prática na cidade de Jundiaí em janeiro deste ano.

A iniciativa é da instituição Serviços de Obras Sociais (SOS) e foi idealizada pela terapeuta ocupacional e violinista Melina Nucci, junto com o psicólogo e violonista Anderson Mairink. Além dos idealizadores, a ação conta com a ajuda do cuidador e percussionista Jonatas Silva.

O SOS atua como casa de passagem na cidade, acolhendo pessoas em situação de vulnerabilidade e oferecendo serviços de higiene, alimentação, pernoites e acompanhamento multiprofissional, com o propósito de auxiliar na saída das ruas.

Já o “Som das Ruas” acontece semanalmente, dentro do espaço da própria instituição e nos demais abrigos que compõem a rede socioassistencial. Os acolhidos participam de atividades com instrumentos musicais, como violão, violino, triângulo, pandeiro, tamborim, bloco sonoro e chocalhos.

Melina conta que são utilizados instrumentos dos próprios idealizadores. Parte das peças também é emprestada por parceiros do serviço e outras são adquiridas com verba proveniente da venda de artesanatos produzidos pelos usuários da casa de passagem.

Segundo a idealizadora, aos poucos, o projeto está angariando recursos para a compra de mais instrumentos musicais.

“Notamos a importância de expandirmos as ações e de investirmos na aquisição de mais instrumentos e materiais a fim de alcançarmos mais pessoas em vulnerabilidade social, pois observamos que a cultura, a arte e a música são capazes de impulsionar tais pessoas para uma mudança de vida através da prática”, explica.

Resultados
Além dos abrigos institucionais, o projeto também é levado mensalmente a espaços públicos, como terminais ferroviários, viadutos, praças, entre outros lugares onde há concentração de pessoas em situação de vulnerabilidade.

“Sendo grande parte do público em situação de rua formado por dependentes químicos, observamos que a música se tornou um fator de proteção para a manutenção da abstinência e prevenção de recaídas, uma vez que os participantes diminuíram o uso de substâncias a fim de estarem sóbrios para melhor performance durante as oficinas e apresentações”, comenta Melina.
De acordo com a terapeuta, alguns participantes também já cogitaram a possibilidade de aprender a tocar os instrumentos para arrecadar verbas por meio da música, com a finalidade de conseguir moradia e sair das ruas.

“Pudemos observar o despertar de vários tipos de emoções nos participantes durante as músicas, demonstradas em risos, choros ou lembranças ligadas à família e ao passado. Assim, essas pessoas foram encorajadas a retomarem o contato com esses familiares, buscando a reaproximação e o fortalecimento de vínculos”, afirma.

Reflexão
Para a idealizadora, uma das situações mais marcantes do projeto aconteceu durante uma das primeiras apresentações externas. No momento, a letra da música “Tempo Perdido”, da banda Legião Urbana, proporcionou uma reflexão acerca do uso do tempo.

“Finalizamos [a apresentação] afirmando que, para nós, era um privilégio fazer uso do nosso tempo para estar com eles naquele dia, e um dos participantes respondeu: ‘esse projeto é para mostrar que alguém sabe que a gente existe'”, lembra.

Inspirado pela iniciativa, um dos participantes do “Som das Ruas” ainda compôs uma canção em agradecimento à casa de passagem SOS de Jundiaí.

(Fonte/Imagem: G1)