Obra de artista jundiaiense é selecionada para museu virtual internacional sobre a pandemia de COVID-19
O registro mostra a degradação até o total desaparecimento de um sabonete. Durante 10 meses, a artista visual MarÃlia Scarabello, de JundiaÃ, tirou fotos do fundo da pia após lavar o rosto pela manhã com ele. As imagens, então, passaram a integrar a obra “Sem tÃtulo [Brasil]”.
E para a surpresa da artista, a obra foi selecionada pela curadoria do The Covid Art Museum, o primeiro museu de artes visuais dedicado exclusivamente à COVID-19 e que nasceu logo no começo da pandemia. O acervo é exposto de forma virtual em um site.
“Eu comprei o sabonete para usar mesmo, mas no primeiro dia vi o trabalho e ai o processo de uso virou trabalho. Passei a tirar fotos no fundo da pia, documentando o processo de degradação que ele sofria com o uso contÃnuo. Comecei em meados de março, junto com o inÃcio da quarentena, e terminei em janeiro de 2021”, conta.
No sabonete a palavra “Brasil” chama a atenção, e sua degradação com o uso traz ainda mais significado à obra.
“É uma forma de refletirmos sobre o presente, sobre o momento em que estamos vivendo e também se torna uma ferramenta para questionarmos o futuro. Isso é um dos efeitos mais poderosos da arte”, afirma MarÃlia.
O trabalho também foi selecionado pela curadoria da “Mostra Museu: Arte na Quarentena”, um projeto que se diz hÃbrido, tanto online quanto offline, que destaca produções artÃsticas realizadas durante o perÃodo de isolamento social.
“Sem tÃtulo [Brasil]” foi instalado na Avenida Pedroso de Moraes, em São Paulo, e em estações de metrô.
“O projeto é muito significativo porque permite que a arte chegue até as pessoas mesmo com os museus fechados. A curadoria é toda feita por uma mulher também”, explica.
Relação estreita
Desde pequena, MarÃlia afirma que já mantinha uma relação estreita com a arte. Em 2007 se formou em arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. E em 2013, deu inÃcio aos trabalhos artÃsticos.
“O meu real começo como artista foi mesmo em 2017. Foi nesse perÃodo que eu tive a real consciência do que eu estava fazendo. Antes eu ainda estava em uma fase de descoberta”, explica.
Atualmente, MarÃlia é docente do curso de arquitetura em uma faculdade de JundiaÃ. Paralelamente, desenvolve seus trabalhos e projetos como artista visual.
“Eu acredito que os dois trabalhos flertam muito um com o outro. Minha formação em arquitetura consegue se unir com meu trabalho em arte”, diz.
A artista contou ao G1 que procura transitar entre múltiplas linguagens em seus projetos, incluindo processos de coleta, fotografias e com uma pesquisa direcionada à questões de território.
“Meu material de trabalho é meu assunto. Meu assunto me traz a materialidade do trabalho. O que eu quero falar? Isso afeta a a linguagem que eu vou escolher”, afirma.
Trabalhos e exposições
Dentre suas inúmeras obras está o trabalho “Porta-bandeiras” que, segundo MarÃlia, surgiu de uma inquietação diante da banalização do uso da bandeira do Brasil e de sua constante manipulação.
O site criado em 2020 com a ajuda do técnico programador Lucas Schlosinski traz um gerador online de bandeiras, onde o usuário pode mudar as cores, frases e até retirar algumas formas. Depois, a imagem pode ser compartilhada.
Entre suas participações nacionais, três obras de MarÃlia foram selecionadas para o Em Rede(s) – 1º Edital Art Soul Artistas Independentes, uma exposição on-line realizada até o dia 12 de outubro. A artista também participou da exposição “Ministério da Solidão”, na Oficina Oswald de Andrade em São Paulo (SP).
Os principais trabalhos de MarÃlia Scarabello podem ser encontrados em seu site.
(Fonte: G1/Imagem: Arquivo MarÃlia Scarabello)