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Fora das ruas, funcionários da rede socioassistencial compartilham depoimentos de superação e incentivo

Publicada em 16/03/2022 às 10:41

Após uma carreira consolidada como cabelereira, Joana Camargo teve contato com a cocaína e o crack e tornou-se uma pessoa em situação de rua, segundo ela, iniciando uma “história complicada e horrível que durou dez anos”. Além de se afastar de sua família, ela perdeu seu carro, casa e até mesmo seu salão de beleza. Em julho deste ano, ela completa oito anos desde que se casou e saiu das ruas. Atualmente ela trabalha com serviços gerais na Organização da Sociedade Civil (OSC) SOS Cristão, que presta serviço à Prefeitura para o acolhimento de pessoas em situação de rua na modalidade abrigo, onde pode conviver e compartilhar suas histórias com pessoas que tiveram trajetórias semelhantes às suas. 

“Depois que cheguei ao Centro Pop, que é a porta de entrada para o atendimento, conheci toda a rede vinculada à Unidade de Gestão de Assistência e Desenvolvimento Social (UGADS) e também os serviços de saúde, como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Eu lutei para me encaixar de novo na sociedade, mas só consegui com o apoio da rede. Eu via o apoio terapêutico e psicológico que me davam e as expectativas que todos tinham de mim, para que eu saísse das ruas, e isso me incentivava. E hoje consigo estar do outro lado e incentivar também estas pessoas”, comemora.

Sobre a esmola, Joana tem também opinião formada. “Eu vendi tudo o que eu tinha, até fiz coisa errada para ter dinheiro para as drogas, mas pedir dinheiro não. Quem dá esmola sabe para onde esse dinheiro vai. Por isso, em vez de dar a esmola, as pessoas deveriam oferecer dignidade. E o caminho para isso é apresentando o Centro Pop a elas”, enfatiza.

Depoimentos como o de Joana são muito semelhantes aos de dois de seus colegas, Priscila Fernandes e João Carlos da Silva, que também já estiveram em situação de rua e hoje trabalham como monitores dos acolhidos na OSC. 

Joana: o verdadeiro caminho para oferecer dignidade é encaminhando para a rede de serviços

Renata Mangieri, assessora da UGADS, reiterou a importância do acesso das pessoas à rede para a construção do processo de saída das ruas. “Além de muito inspiradores, os depoimentos corroboram com objetivo da campanha ‘Menos Esmola, Mais Dignidade’, sobre a importância de que as pessoas em situação de rua sejam encaminhadas para os equipamentos e serviços da Rede Pop Rua, rede socioassistencial de atendimento à população em situação de rua.  Por isso reiteramos que as pessoas conheçam toda a rede de atendimento para essas pessoas e que façam os devidos encaminhamentos”.

A paulistana Priscila Fernandes também viveu por alguns anos no que ela chama de “obscuro mundo das ruas”, do qual saiu há três anos. Para Jundiaí ela veio há oito anos, por conta de sua fama de cidade caridosa. “Para minha autodestruição, eu contava cada história para conseguir esmola! Por isso saí de São Paulo, a selva de pedras, para vir para cá, pois aqui as pessoas são mais amorosas e acreditavam nas minhas histórias”.

Enquanto esteve nas ruas, Priscila afastou-se de seus quatro filhos, que passaram a morar com a avó. “A droga traz refúgio, mas tem a capacidade de dominar a sua mente. Nas ruas, eu vivia para usar drogas e usava drogas para viver. Há três anos tenho reconquistado tudo o que tinha perdido, inclusive minha mãe e meus filhos, que vieram para Jundiaí só para estar comigo”. Sobre a sua experiência no abrigo, Priscila fica feliz em dizer que pode ajudar o próximo. “Eu já morei em abrigo e sei o que essas pessoas passaram antes de chegar ao acolhimento. Isso ajuda a me colocar no lugar deles, pois entendo de suas linguagens e suas vivências”, acrescentou.

Monitora dos acolhidos, Priscila reitera a importância de entender as linguagens e vivências

João Carlos da Silva, que também trabalha na OSC como monitor, é ainda mais enfático sobre a sua experiência com as ruas e com as drogas. “Saí das ruas há sete anos, depois de 20 anos. Agora finalmente eu posso dizer que eu vivo, pois antes eu só vegetava. Comecei a usar drogas muito cedo, aos 17, e isso me levou à prisão e às ruas, e a fazer tudo o que existe de errado. Contei muita mentira para conseguir dinheiro fácil, mas isso me humilhava”.

A Jundiaí João chegou em 2013 e permaneceu em situação de rua até aceitar o acolhimento. “É muito difícil parar, mas não é impossível. São só necessários vontade e apoio. E, no meu caso, o apoio veio do abrigo. Quando estava para terminar o meu prazo de permanência, o serviço notou que eu tinha um propósito, que eu estava evoluindo, e decidiram prorrogar. Hoje consigo pagar o aluguel da minha casa e não preciso pedir para ninguém para tomar banho e para comer. Aos 38 anos, posso dizer que cuido das pessoas da mesma forma que muita gente cuidou de mim. Finalmente estou aprendendo a viver e sentindo-me feliz”.

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E concluiu com um apelo. “Este é o meu apelo para quando encontrarem alguém em situação de rua: não abaixem a cara, não desviem olhar, pois assim vocês não ajudam ninguém a se levantar. Por isso daqui para frente quero me dedicar a isso, a buscar formação, ter uma profissão e permitir que mais pessoas tenham a oportunidade que eu tive”, concluiu.

João Carlos: “Agora finalmente eu posso dizer que eu vivo, pois antes eu só vegetava!”

Orientações
Sempre que alguém identificar pessoa em situação de rua solicitando ajuda financeira ou apoio, a orientação da campanha “Menos Esmola Mais Dignidade” é que ela seja direcionada para o Centro Pop. Também com atendimento 24h por dia, pode ser acionado o Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS) pelo telefone (11) 98531-0146. Já em casos em que for identificada intoxicação ou ocorrências mais graves, o SAMU poderá ser acionado pelo telefone 192.

Para o acolhimento institucional da população em situação de rua, a Prefeitura disponibiliza mais de cem vagas mensais, nas modalidades Casa de Passagem, Abrigo e República, atualmente, por meio de parceria com as OSC SOS, SOS Cristão e Casa Santa Marta. A equipe técnica é formada por psicólogos, assistentes sociais, arte-educadores, terapeutas ocupacionais, cuidadores, monitores, cozinheiros e motoristas.

Fora das ruas, os agora profissionais dos serviços conseguem compartilhar depoimentos inspiradores para os acolhidos

(Fonte/Imagem: Prefeitura de Jundiaí)


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