Brincadeira de rasteira feita por jovens pode levar à morte
VÃdeos de uma perigosa “brincadeira” em que adolescentes dão uma rasteira em colegas têm circulado nas redes sociais e preocupado pais, educadores e médicos. No desafio, dois jovens se posicionam ao lado de um colega, que é orientado a pular e, então, recebe o golpe. A pessoa acaba caindo e batendo a cabeça no chão. Especialistas afirmam que a queda pode causar danos no crânio, no cérebro e na coluna. Em novembro do ano passado, uma jovem de 16 anos que participava da “brincadeira” morreu em Mossoró.
Com a circulação dos vÃdeos, o tema voltou à tona na cidade onde Emanuela Medeiros da Costa, aluna do 9.º ano da Escola Municipal Antônio Fagundes, morreu. Segundo a prefeitura de Mossoró, o episódio será abordado nesta quarta-feira (12) durante a abertura da jornada pedagógica com professores e gestores, “inclusive com vÃdeos alertando sobre os perigos” da “brincadeira”, chamada de quebra-crânios, roleta humana ou desafio da rasteira.
A prefeitura informou que a jovem teve traumatismo craniano e chegou a ser socorrida, mas não resistiu. A famÃlia da adolescente e os colegas que participavam do desafio receberam assistência de psicólogos e assistentes sociais do municÃpio.
Em São Paulo, o Colégio Santa Maria informou que teve conhecimento da “brincadeira” por meio de uma funcionária da escola, que divulgou um vÃdeo em um grupo de WhatsApp chamado Práticas Corporais, para que as pessoas ficassem atentas. Agora, o colégio divulgará uma nota alerta em suas redes, para conscientizar estudantes e pais.
Ortopedista especialista em cirurgia da coluna e coordenador da pós-graduação em cirurgia endoscópica de coluna na Universidade de São Paulo (USP), João Paulo Bergamaschi diz que os jovens não têm noção do risco de sofrer traumas graves e até morrer.
“As pessoas que idealizaram não se atentaram à gravidade. É uma brincadeira que pode levar à morte, tanto que vitimou a adolescente no Rio Grande do Norte. O risco principal é a cabeça. Quando se cai de costas, a cabeça fica muito exposta a ter um trauma direto, no crânio, ou uma lesão interna.”
A coluna também pode ser afetada, embora o risco seja maior para pessoas mais velhas. “O movimento de “chicote” (vai e vem) no pescoço pode causar um dano irreversÃvel na coluna vertebral, deixar o indivÃduo paraplégico. O jovem, teoricamente, tem uma musculatura melhor e ossos mais fortes, mas não está isento.”
Coordenador do departamento de neurologia pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Carlos Takeuchi explica que a forma que a pessoa cai é diferente no caso de uma queda por tropeçar ou escorregar, por exemplo.
“Quando a gente tropeça, pode bater a cabeça, mas tem o reflexo de defesa, de colocar a mão (para se proteger). (Nessa brincadeira), a pessoa cai sem defesa. Ela vai ter a queda um pouco acima da própria altura. Um adolescente de 1,50 ou 1,60 metro cairá de quase 1,80 metro sem se proteger.”
Takeuchi diz que a região atingida nesse tipo de queda é ligada à visão. “Pode haver sangramento, contusão e uma infinidade de lesões intracranianas que podem demandar internações e até procedimentos cirúrgicos.”
Pais devem conversar com os filhos
O neurologista pediátrico diz que os pais devem ficar atentos a sintomas que os jovens podem apresentar após sofrer uma lesão na cabeça. “Em casos muito extremos, a pessoa pode apresentar alterações de nÃvel mental, vômitos e dor de cabeça.”
Ele recomenda que os pais conversem com os filhos sobre o assunto. “Quando nós, pais, recebemos um vÃdeo desses, temos de alertar. O filho não pode ficar no meio e muito menos dar rasteira nos colegas. Os pais têm papel de educador.”
A psicóloga clÃnica especializada em famÃlia Carla Guth diz que, ao educar os filhos, os pais devem abordar o tema da responsabilidade.
“Os jovens perdem a noção do limite da brincadeira e, na conglomeração, não se coloca na situação do outro e não pensa que pode ser um alvo da brincadeira. Os pais precisam educar os filhos sobre direitos e deveres e falar sobre responsabilidades, mostrar que os atos deles têm consequências. O jovem tem de aprender a trabalhar os vÃnculos com amigos, cuidar e ser cuidado.”
Carla recomenda ainda que os pais busquem sempre se atualizar sobre as novidades que chegam para os filhos para poder passar informações embasadas, e não apenas proibir. “E o diálogo tem de ser constante.”
(Fonte: Estadão. Imagem: Uol)