Nova variante do coronavírus é detectada na África do Sul
A África do Sul comunicou nesta quinta-feira (25), a descoberta de uma nova variante do coronavírus. Trata-se da cepa B.1.1.529, que possui uma “constelação incomum” de mutações com impactos ainda desconhecidos sobre a transmissão da COVID-19. A descoberta ocorre em um momento em que o mundo volta a se preocupar com um novo avanço da doença.
A seguir, entenda o que se sabe até aqui sobre a variante e os efeitos esperados sobre a pandemia.
O que a África do Sul divulgou sobre a nova variante?
Chamada de B.1.1.529, a nova variante é responsável por 22 casos de COVID-19 no país até o momento. Adrian Puren, diretor executivo do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul (NICD), afirmou, em comunicado à imprensa, que embora os dados até o momento sejam limitados, os especialistas do Instituto estão trabalhando para estabelecer mecanismos de vigilância para entender a nova variante e suas implicações. “Os desenvolvimentos estão acontecendo de forma rápida e o público tem nossa garantia de que manteremos todos avisados”.
Qual a velocidade de detecção da nova variante?
Os casos detectados e a porcentagem de testes positivados aumentaram rapidamente nas províncias de Gauteng, a mais populosa do país, North West e Limpopo. Michelle Groome, chefe da divisão de vigilância e resposta em saúde pública do NICD, disse que as autoridades de saúde provinciais continuam em alerta máximo e estão priorizando o sequenciamento de amostras positivas para COVID-19. Autoridades, porém, afirmaram que ainda é cedo para dizer se serão impostas novas restrições.
Em que outros países e regiões a variante já foi detectada?
Segundo a Rede para Vigilância Genômica da África do Sul, a variante já foi identificada em amostras coletadas de 12 a 20 de novembro em Botswana e em Hong Kong, de um viajante sul-africano. Os governos da Bélgica e de Israel também anunciaram nesta sexta-feira (26), a confirmação dos primeiros casos da nova variante dentro das suas fronteiras.
Que medidas outros países estão tomando para evitar a propagação da variante?
Ao menos 9 países, a maioria da Europa, anunciaram restrições a voos de nações africanas devido à nova variante. Outras nações, como Singapura, Japão e Índia, também anunciaram que vão adotar medidas. A OMS, porém, recomendou cautela na criação de novas barreiras.
Até o momento, Hong Kong e Itália são as nações que têm o maior número de países africanos com restrições a entrada de não-residentes. Ao todo, estão proibidas as entradas de viajantes de 8 países do sul da África, caso tenham permanecido nesses países nos últimos 21 dias: África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Malaui, Moçambique, Namíbia e Zimbabue.
Israel proibiu a entrada a sete países: África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Moçambique, Namíbia e Zimbábue. A lista é praticamente igual a do Reino Unido, que restringiu a entrada todos esses, com exceção à Moçambique.
O secretário de Saúde do Reino Unido, Sajid Javid, disse que há preocupação de que a nova variante possa ser “mais transmissível ” que a dominante cepa Delta, e que “as vacinas que temos atualmente podem ser menos eficazes” contra ela.
Outros países que anunciaram restrições foram a Alemanha, Bahrein, Croácia e França.
Nesta sexta, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu em sua conta no Twitter que o órgão executivo irá propor, “em coordenação próxima com Estados membros”, uma interrupção emergencial das viagens aéreas da região sul do continente africano. O motivo, segundo ela, é a preocupação com a variante da COVID-19.
O Brasil também vai restringir voos da África do Sul?
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou nesta sexta-feira (26), a adoção de medidas restritivas de caráter temporário em relação aos voos e viajantes procedentes da África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue em decorrência da nova variante. A Anvisa informa que enviou à Casa Civil da Presidência da República nota técnica sobre as restrições, que só passam a valer se forem acatadas em ato interministerial do governo.
Quais são os riscos da nova variante da África do Sul?
Ainda não há estudos conclusivos, mas as características da nova cepa apontam risco de maior transmissão ou de escape da proteção das vacinas.
O cientista brasileiro Tulio de Oliveira é diretor do Ceri, o Centro para Resposta à Epidemias e Inovação da África do Sul, país onde foi identificada a variante. Segundo ele, é preciso ajudar o país a conter a nova ameaça, e não isolar a região.
A cepa é identificada como B.1.1.529 e, se for considerada como uma variante de preocupação pelo Organização Mundial da Saúde (OMS), deve ser chamada de Nu, a próxima letra grega – esse alfabeto é usado para nomear essas mutações.
Embora poucos casos tenham sido identificados, Oliveira diz que provavelmente há “milhares” de infectados pelo País. O pesquisador disse ao Estadão que, apenas na quarta-feira (24), o Ceri recebeu mais de mil amostras para a análise e que a equipe está “trabalhando contra o relógio” para entender os efeitos de transmissibilidade, vacinas, reinfecção, gravidade da doença e diagnósticos.
Como está sendo avaliado o efeito da variante sobre as vacinas?
O laboratório alemão BioNTech, parceiro da Pfizer na produção de vacinas contra o coronavírus, informou, nesta sexta-feira (26), que espera ter, em até duas semanas, os primeiros resultados dos estudos que vão determinar se a nova variante da COVID-19 identificada na África do Sul é capaz de escapar da proteção oferecida pelo imunizante. Segundo a BioNTech, a cepa “difere claramente das variantes já conhecidas porque tem mutações adicionais na proteína spike”.
Qual foi a reação das bolsas internacionais?
A notícia provocou uma onda negativa nos mercados acionários globais nesta sexta-feira. Na Ásia, os principais índices de ações fecharam em queda e, na Europa, as Bolsas operam em baixa.
O temor também atinge o mercado brasileiro. Na B3, a Bolsa de São Paulo, o Ibovespa caía 3,83% às 12h20, para 101.802,35 pontos, com recuo praticamente generalizado na carteira de ações.
(Fonte: Estadão/Imagem: Agência Brasil)