Medo: problema tem origem na angústia, diz psicólogo

Por Rafael Amaral

As notícias na imprensa não são as melhores. Possível guerra entre nações, crise econômica sem previsão para chegar ao fim, crise política, problemas ambientais, além de infindáveis incertezas. Bombardeadas por essas questões, pessoas compartilham um sentimento comum, e do qual não é fácil se libertar: o medo. Defini-lo, da mesma forma, é tarefa bastante difícil.

Para o psicólogo e psicanalista Paulo André Céo Rosa, a sensação de morte gera angústia, e é ela que gera medo. “Acredito que a morte é a grande angústia que o homem tem”, declara. O terapeuta afirma ainda que muitas pessoas – bombardeadas por notícias de todos os lados, todos os dias, a cada segundo –, não estão mais acreditando, por exemplo, que catástrofes anunciadas podem ser reais. De tudo isso, sobra como resíduo “um medo psicológico”, que faz as pessoas “criarem fugas, como gastar mais, consumir mais, e viver em um mundo isolado”. “O medo psicológico é o não enfrentamento da própria angústia”, informa.

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Céo Rosa crê que muitas pessoas vivem com medo e não sabem muito bem o que têm. A saída é recorrer a qualquer coisa que ajude a esquecer desses problemas, como festas aos finais de semana e escapadas após o expediente de trabalho. Em casos extremos, esse medo pode evoluir para o pânico. “O pânico é a pane, a parada”, explica. “No caso da ansiedade, a pessoa sente, mas no caso da angústia nem sempre ela sabe explicar.”

Idades

Segundo experiências em seu dia a dia, no atendimento a adolescentes, Céo Rosa percebe que os jovens possuem medos mais concretos que os idosos. “O jovem tem receio de que o futuro que ele espera não se concretize, de que seu sonho não acontecerá.” No caso do idoso, os medos são outros: o de não conseguir ter um plano de saúde, uma aposentadoria ou mesmo uma reserva financeira para a posteridade.

Brasileiro

Para Céo Rosa, “o brasileiro é um povo bastante medroso”. “Mas, acho, é um medo infantil, não é real.” Nesse sentido, o brasileiro teria mais medo de perder o emprego do que de viver sob um governo que poderia lhe causar alguma mal a longo prazo. “Estamos preocupados com o que é nosso, não com o coletivo.”

Combater o medo, para ele, passa pelo choque de realidade. “Está faltando uma gota de realidade para nossa história nacional, estamos nos tornando uma nação psicótica, que não avalia mais o certo e errado. Você já não tem mais certezas e, quando parte para incertezas, cria pessoas inseguras. O caminho é tocar a realidade.”