Chocolate bom é chocolate amargo…
Leia mais Crônica ▪ Bélgica 2 x 1 Brasil ▪ Brasil x Bélgica ▪ Chocolate amargo ▪ Pedro Fávaro Jr.Neymar caminha para seus 30 anos sem título na Copa do Mundo. Perdemos. Agora, de 2 a 1. Só fomos mostrar a raça brasileira nos últimos 15 minutos. Não dava para fazer ali o que não fizemos antes. Levamos nosso pequeno chocolate belga. E chocolate bom é chocolate amargo. Amargamos outra volta para casa frente à uma seleção invicta agora há 23 jogos, que poderá ser a novidade da Copa de 2018. Ninguém se engane: jogo é jogo, chocolate é chocolate e a vida é a vida: que ela siga, pois, com muito esporte, com os aprendizados das derrotas amargas e a doçura de muitas vitórias.
Não foi fácil não, Brasil. Vou ficar borocoxô por uns dias ainda. Sei que vai passar. Passa. Mas que sufoco. Dois a zero no primeiro tempo. Aliás, nos primeiros 30 minutos do jogo. A marcação à tão cantada defesa do Brasil, até então apontada como a menos vazada da Copa, mostrou ser mera ilusão. Os belgas passearam pelo nosso lado esquerdo, lado do melhor lateral do mundo, Marcelo. Na frente, a sofrência. Ninguém pra cima. Ninguém vertical. Ninguém decisivo. Ninguém criativo. Ninguém marcando o adversário. Ninguém marcando gol.
A impressão, no finalzinho da primeira etapa foi a de que a sorte estava lançada. Minha impressão era a de que estávamos saboreando e levando para casa um delicioso praliné, chocolate delicioso inventado pelos belgas. A mente viajou para 2014 e visitou os 7 a 1 da Alemanha. Mas sou brasileiro, não desisto nunca.
Então a pontinha de tristeza foi menor, porque afinal, esporte é assim mesmo: alguém ganha e alguém perde. O que cansa é perder sempre com um elenco considerado um dos mais caros do mundo – o terceiro mais caro, avaliado em € 950 milhões, ficando atrás somente da Alemanha, € 1,03 bilhão e França, € 1,04 bilhão.
Para aliviar a tensão, ligo para a mulher. “Eu tinha falado, não tinha?” – e tinha mesmo. “Bom, agora estou achando que vamos para os pênaltis”, diz para me consolar, que eu a conheço bem. “Ôpa, então temos uma bela chance ainda!”, enceno, impostando a voz no telefone para mostra alguma animação. E penso: “O que será que o Tite vai dizer para essa moçada? Que é tudo ou nada e que o nada eles já estão levando, de novo?”. Não é que quase ela acerta de novo… Quase!
Segundo tempo. O Brasil pressiona. Sem muita efetividade. Nos primeiros 15 minutos. Uma queda do Neymar na área. Outra de Gabriel Jesus, que deixou até o juizão em dúvida. Pediu pra ver no VAR, mas para variar nada. Segue o jogo. E a gente volta no jogo ramerrão, no “dois pra lá, dois pra cá”. Gente, me perdoem vocês que me lêem. Esta é a minha décima sexta vez torcendo. E são cinco títulos e até alguns não-títulos com muito futebol e futebol bonito, criativo, decisivo, coletivo e individual. Sem discurseira. Sem falatório.
Até os 20 minutos da etapa final, nada de nada. Nem aquela bolinha na trave do primeiro tempo. A Bélgica chamando e a gente aceitando. Tudo armado para o chocolate aumentar…E aos 30 minutos, Renato Augusto entra e na primeira jogada para cima, para dentro, mete a cabeça na bola e me enche de esperança. Enche o Brasil de esperança. Tentamos. Jogamos até o fim. Perdemos algumas chances. Uma faltando um minuto para acabar, chute do Neymar e defesa do goleiraço Courtois, na ponta dos dedos. Não levamos o chocolate belga. Nem mostramos o melhor futebol do mundo. Fim. Agora só daqui a quatro anos. E o canarinho brasileiro, vai continuar “pistola”. Paciência.
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